1. Introdução
Vivemos hoje em um tempo no qual as pessoas precisam ler a todo o instante. Isso se deve muito particularmente ao surgimento das mídias digitais, em que os gêneros textuais se diversificaram ainda mais. Contudo, os dados estatísticos recentes revelam a baixa proficiência dos estudantes leitores (PISA, 2018). Nesse sentido, é importante refletir o que se pode fazer para melhorarmos esses índices, mas, principalmente, como podemos contribuir para que nosso aluno seja capaz de desenvolver suas habilidades de leitura e interpretação de texto a partir dos diferentes gêneros textuais existentes, especialmente aqueles aos quais ele não tem acesso no seu dia a dia, seja por desconhecimento, seja por falta de oportunidades, ou por outros fatores. Entre esses gêneros, está o de divulgação científica, o qual é de suma importância para a popularização da ciência e disseminação do conhecimento nas mais diversas áreas.
Assim, entende-se que a Língua Portuguesa é um dos componentes curriculares básicos para a construção de competências e habilidades em leitura não só para todas as demais disciplinas, mas para um desempenho minimamente adequado nas situações sociocomunicativas nas quais o estudante se envolva. Entre elas, estão, portanto, a leitura e a interpretação de texto. Dessa forma, o trabalho aqui desenvolvido traz como principal objetivo apresentar uma proposta didática sobre leitura, interpretação e compreensão de texto, a partir do gênero textual divulgação científica, em que o corpus foi extraído do site da Revista Galileu, tendo por título: Microplásticos podem ser ‘cavalo de Troia’ para o transporte de metais.
Nesse sentido, o trabalho caracteriza-se por ser exploratório-descritivo e bibliográfico. Inicialmente, fez-se a pesquisa do corpus para a construção da proposta didática. A elaboração do plano didático tem por base os pressupostos teóricos acerca da leitura, aprendizagem, memória, cognição e linguística textual.
A proposta justifica-se pela necessidade de se buscarem formas de contribuir para o trabalho do professor de Língua Portuguesa, com vistas a possibilitar-lhe, de um lado, um contato com um aporte teórico acerca da leitura, e de outro, demonstrar passos importantes a serem seguidos para a formação do leitor competente.
2. Propósito de leitura
Aprendemos a falar e a nos expressar oralmente na nossa infância, no próprio seio familiar, entretanto, o aprendizado da leitura e da escrita ocorre na escola. E esse aprendizado é um processo complexo.
Utilizando-se da área visual, nosso cérebro aprende a reconhecer as letras, a fixar as suas formas e invariâncias (DEHAENE, 2002, 2007). Após essa parte inicial, vamos combinando os fonemas, formando as sílabas e as palavras. A combinação de palavras forma frases e textos. Quanto mais palavras aprendemos, maior será o nosso repertório de vocabulário e maior também será a nossa capacidade de entender as nuances de significados presentes nos textos (PERFETTI, 2010). Assim, a ação letrada perpassa por vários âmbitos: o visual, o cognitivo e o sociointeracionista, pois vamos construindo o nosso léxico mental a partir de um conhecimento em rede, isto é, vamos conectando vários conhecimentos quando do ato da leitura para que ela seja de fato proficiente.
Nesse sentido, precisamos da conta de uma série de competências e habilidades em leitura, ativando em nossa memória os componentes linguísticos próprios: fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos, pragmáticos e cognitivos.
Quando pensamos em elaborar nosso planejamento didático envolvendo a leitura, precisamos ter em mente algumas questões norteadoras. Nesse sentido, Braga e Silvestre (2002), propõem pensar-se na intenção de leitura, isto é, a finalidade da atividade. Assim, de um modo geral,
nossas intenções são muito gerais, muito vagas. Quero que leiam para aprender. Quero que leiam para obter informações. Quero que leiam porque o texto é interessante. Quero que leiam para revisar o conteúdo. Quero que leiam para relacionar com a matéria. Quero que leiam porque o autor é importante. Quero que leiam porque o texto é bonito, tem uma mensagem profunda. Quero que leiam para poder trabalhar um tema transversal. Aprender exatamente o quê? Obter que tipo de informação? Por que é interessante? Por que aquele texto foi escolhido para revisar o conteúdo? Relacionar que aspectos da matéria? Por que aquele autor é importante? Por que o texto é bonito? Por que a mensagem é profunda? Que tema transversal? (...) Devemos sempre lembrar-nos de que o aluno lerá o que foi escolhido por nós e não por ele, de que o texto tem significado para nós. Portanto, essa escolha precisa estar bem clara, definida, para envolver o aluno e, consequentemente, atingir a nossa intenção de leitura. (BRAGA; SILVESTRE, 2002, p. 30, grifos das autoras).
As autoras propõem três momentos para a realização da atividade: pré-leitura, leitura-descoberta e pós-leitura. Nas atividades de pré-leitura, antes de os estudantes terem acesso ao texto, convém que sejam ativados os seus conhecimentos prévios. Isto é, instigá-los a levantar hipóteses, elaborar alternativas, despertar a imaginação, para que possam fazer as associações necessárias quando da leitura efetiva. As atividades de pré-leitura podem ser também uma forma de auxiliar os alunos com menos conhecimento sobre um determinado tema a estarem em condições semelhantes aos seus colegas, para que todos possam compartilhar os conhecimentos necessários para compreender o texto.
Já a fase de leitura-descoberta é o momento de o estudante entrar em contato com o código escrito propriamente dito, ou seja, o texto. Nessa etapa, o estudante poderá testar as suas hipóteses, fazer relações com as informações, concordar, discordar ou mesmo questionar as ideias ali presentes. Nesse momento, a mediação do professor é fundamental para que o estudante perceba nuances interpretativas do texto. Além disso,
Também nessa etapa o professor deve lembrar-se de que o texto é a produção de um discurso e como tal há todo um contexto até mesmo a intencionalidade de quem escreveu. E, para construir o texto (do latim textum = tecido, trama, entrelaçado), o autor combina diferentes recursos da língua, seleciona palavras, privilegia certas construções sintáticas, a fim de construir sua intenção. (BRAGA; SILVESTRE, 2002, p.33).
No momento da pós-leitura, os estudantes poderão refletir criticamente sobre o(s) conteúdo(s) do texto. Essa é uma fase de ampliação do conhecimento construído, em que podem ser feitas questões sobre as informações explícitas e implícitas, elaborar conexões de intertextualidade, associar às questões socioculturais do momento em que vivemos, argumentar e contra-argumentar sobre as informações que aparecem no texto.
2.1 Leitura e BNCC (2017)
Com a presente proposta, pretendemos atingir algumas habilidades previstas na BNCC (2017), no que se refere ao Campo das Práticas de Estudo e da Pesquisa, contemplando a Competência número 8: “Selecionar textos e livros para leitura integral, de acordo com objetivos, interesses e projetos pessoais (estudo, formação pessoal, entretenimento, pesquisa, trabalho etc.)” (BNCC, 2017, p. 87, grifos nossos). Ainda, no documento, constam como competências gerais a ampliação e a qualificação da participação dos jovens na área do estudo e da pesquisa por meio de:
- compreensão dos interesses, atividades e procedimentos que movem as esferas científica, de divulgação científica e escolar; - reconhecimento da importância do domínio dessas práticas para a compreensão do mundo físico e da realidade social, para o prosseguimento dos estudos e para formação para o trabalho; e - desenvolvimento de habilidades e aprendizagens de procedimentos envolvidos na leitura/escuta e produção de textos pertencentes a gêneros relacionados ao estudo, à pesquisa e à divulgação científica. (BNCC, 2017, p.50).
Nesse sentido, essa proposta didática sobre o estudo e a pesquisa possibilitará ao estudante uma introdução nesse âmbito, buscando conhecer a importância dos gêneros textuais que instanciam tais práticas, com vistas a reconhecer a sua estrutura, veiculação e atividade social.
Assim sendo, elencamos algumas habilidades específicas que desejamos atingir com esta proposta e acordo com cada objeto do conhecimento, quais sejam: Leitura, Produção Textual, Oralidade, Análise Linguística e Semiótica. Assim, para a Leitura, selecionamos as habilidades 20, 21, 22 e 29:
(EF67LP20) Realizar pesquisa, a partir de recortes e questões definidos previamente, usando fontes indicadas e abertas.
(EF67LP21) Divulgar resultados de pesquisas por meio de apresentações orais, painéis, artigos de divulgação científica, verbetes de enciclopédia, podcasts científicos etc.
(EF67LP22) Produzir resumos, a partir das notas e/ou esquemas feitos, com o uso adequado de paráfrases e citações.
(EF69LP29) Refletir sobre a relação entre os contextos de produção dos gêneros de divulgação científica – texto didático, artigo de divulgação científica, reportagem de divulgação científica, verbete de enciclopédia (impressa e digital), esquema, infográfico (estático e animado), relatório, relato multimidiático de campo, podcasts e vídeos variados de divulgação científica etc. – e os aspectos relativos à construção composicional e às marcas linguística características desses gêneros, de forma a ampliar suas possibilidades de compreensão (e produção) de textos pertencentes a esses gêneros. (BNCC, p.151,169).
Dessa forma, a prática de leitura perpassa desde a curadoria, a produção, a reflexão até a divulgação do que foi pesquisado. Dimensionando uma amplitude global da prática de pesquisa. Já para a Produção de Textos, selecionamos as habilidades 35 e 36, em que os estudantes poderão:
(EF69LP35) Planejar textos de divulgação científica, a partir da elaboração de esquema que considere as pesquisas feitas anteriormente, de notas e sínteses de leituras ou de registros de experimentos ou de estudo de campo, produzir, revisar e editar textos voltados para a divulgação do conhecimento e de dados e resultados de pesquisas, tais como artigo de divulgação científica, artigo de opinião, reportagem científica, verbete de enciclopédia, verbete de enciclopédia digital colaborativa, infográfico, relatório, relato de experimento científico, relato (multimidiático) de campo, tendo em vista seus contextos de produção, que podem envolver a disponibilização de informações e conhecimentos em circulação em um formato mais acessível para um público específico ou a divulgação de conhecimentos advindos de pesquisas bibliográficas, experimentos científicos e estudos de campo realizados. (EF69LP36) Produzir, revisar e editar textos voltados para a divulgação do conhecimento e de dados e resultados de pesquisas, tais como artigos de divulgação científica, verbete de enciclopédia, infográfico, infográfico animado, podcast ou vlog científico, relato de experimento, relatório, relatório multimidiático de campo, dentre outros, considerando o contexto de produção e as regularidades dos gêneros em termos de suas construções composicionais e estilos (BNCC, 2017, p. 153).
Portanto, a partir do estudo dos textos aqui apresentados e das dicas sobre pesquisa, seria importante a divulgação das descobertas dos estudantes para a escola. Pode ser por meio de painel, de veiculação de um jornal escolar, de panfletos, ou da realização de seminários. Esses, por sua vez, promoverão as habilidades previstas para a Oralidade. Para a qual, destacamos a habilidade 38:
(EF69LP38) Organizar os dados e informações pesquisados em painéis ou slides de apresentação, levando em conta o contexto de produção, o tempo disponível, as características do gênero apresentação oral, a multissemiose, as mídias e tecnologias que serão utilizadas, ensaiar a apresentação, considerando também elementos paralinguísticos e cinésicos e proceder à exposição oral de resultados de estudos e pesquisas, no tempo determinado, a partir do planejamento e da definição de diferentes formas de uso da fala – memorizada, com apoio da leitura ou fala espontânea. (BNCC, 2017, p. 153).
Outrossim, especialmente durante o processo de leitura e produção textual, o professor já vai trabalhando a parte de Análise Linguística e Semiótica. Nesse tópico, é preciso atentar para a constituição do texto, tanto no aspecto linguístico quanto visual. Nesse sentido, buscamos atingir as habilidades 42 e 43:
(EF69LP42) Analisar a construção composicional dos textos pertencentes a gêneros relacionados à divulgação de conhecimentos: título, (olho), introdução, divisão do texto em subtítulos, imagens ilustrativas de conceitos, relações, ou resultados complexos (fotos, ilustrações, esquemas, gráficos, infográficos, diagramas, figuras, tabelas, mapas) etc., exposição, contendo definições, descrições, comparações, enumerações, exemplificações e remissões a conceitos e relações por meio de notas de rodapé, boxes ou links; ou título, contextualização do campo, ordenação temporal ou temática por tema ou subtema, intercalação de trechos verbais com fotos, ilustrações, áudios, vídeos etc. e reconhecer traços da linguagem dos textos de divulgação científica, fazendo uso consciente das estratégias de impessoalização da linguagem (ou de pessoalização, se o tipo de publicação e objetivos assim o demandarem, como em alguns podcasts e vídeos de divulgação científica), 3ª pessoa, presente atemporal, recurso à citação, uso de vocabulário técnico/especializado etc., como forma de ampliar suas capacidades de compreensão e produção de textos nesses gêneros.
(EF69LP43) Identificar e utilizar os modos de introdução de outras vozes no texto – citação literal e sua formatação e paráfrase –, as pistas linguísticas responsáveis por introduzir no texto a posição do autor e dos outros autores citados (“Segundo X; De acordo com Y; De minha/nossa parte, penso/amos que”...) e os elementos de normatização (tais como as regras de inclusão e formatação de citações e paráfrases, de organização de referências bibliográficas) em textos científicos, desenvolvendo reflexão sobre o modo como a intertextualidade e a retextualização ocorrem nesses textos. (BNCC, 2017, p.155).
A partir dessa introdução aos pressupostos, competências e habilidades previstas pela BNCC (2017) acerca do gênero textual escolhido, adentramos, a seguir, numa revisão da teoria sobre os gêneros textuais.
3. Conhecendo o gênero textual divulgação científica
Para Bakhtin (2016, p.12), “cada campo de atualização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso”, que fazem parte das atividades humanas, ajudando na organização da sociedade. Assim, podemos identificar como gêneros pertencentes ao campo Pesquisas e Estudos Científicos, os seguintes: “texto didático, artigo de divulgação científica, reportagem de divulgação científica, verbete de enciclopédia (impressa e digital), esquema, infográfico (estático e animado), relatório, relato multimidiático de campo, podcasts e vídeos variados de divulgação científica etc.” (BNCC, 2017).
Tais gêneros apresentam uma estrutura relativamente estável. Diz-se relativa por conta da heterogeneidade presente nos textos quanto ao seu modo de escrita. Nessa relativa estabilidade, encontramos elementos constituintes do texto que ajudam a identificá-los como de pesquisa científica, tais como os operadores argumentativos do tipo: segundo, de acordo com, na visão de, etc., que marcam a referenciação de vozes de cientistas/pesquisadores da área, para dar embasamento teórico ao que o produtor do texto aborda. Outro fator relevante na produção textual desses gêneros é a presença da impessoalidade, visto que em textos científicos, na maioria das vezes, está-se a discorrer sobre uma evidência científica, o que é muito diferente de argumentar a favor ou contra um determinado ponto de vista, que caracteriza um texto argumentativo, por exemplo.
Dessa forma, entende-se por gêneros textuais os textos materializados em situações comunicativas frequentes (MARCUSCHI, 2008). Na concepção de Dell’Isola (2007, p. 17), os gêneros textuais são “formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais típicas e em domínios discursivos específicos”. Muito mais do que os diferentes enunciados orais ou escritos produzidos pelos usuários da língua, os gêneros textuais
apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na interação de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. [...] são entidades empíricas em situações comunicativas e se expressam em designações diversas, constituindo em princípio listagens abertas. (MARCUSCHI, 2008, p. 155).
Os gêneros também se caracterizam por serem “formações interativas, multimodalizadas e flexíveis de organização social e de produção de sentidos”, o que faz com que o gênero não seja “estático nem puro” (MARCUSCHI, 2006, p. 25).
Pode-se afirmar que os gêneros textuais são ilimitados, visto que são inúmeras as situações comunicativas que requerem o seu uso. Alguns exemplos de gêneros textuais são: crônica, artigo científico, artigo de opinião, reportagem, notícia, e-mail, romance, conto, resenha, ensaio, receita culinária, bula de remédio, charge, história em quadrinhos, bilhete, horóscopo, edital de concurso, post, carta, aulas virtuais e muitos outros.
Com relação ao estilo, conteúdo e composição dos gêneros textuais, Koch e Elias (2006, p. 113) afirmam que:
- a noção de gêneros textuais é respaldada em práticas sociais e em saberes socioculturais, porém os gêneros podem sofrer variações em sua unidade temática, forma composicional e estilo;
- todo e qualquer gênero textual possui estilo; em alguns deles, há condições mais favoráveis (gêneros literários), em outros, menos favoráveis (documentos oficiais, notas fiscais), para a manifestação do estilo individual;
- os gêneros não são instrumentos rígidos e estanques [...];
- os gêneros não se definem por sua forma, mas por sua função.
Com o surgimento das novas tecnologias, novos estilos de gêneros textuais também surgiram, como, por exemplo, mensagens enviadas por e-mail, bate-papo via internet, aulas na modalidade de ensino a distância (EaD) e recados postados nas redes sociais, como Facebook, Instagram e Twitter, entre outros. Contudo, conforme aponta Coscarelli (2007, p. 83), não precisamos conhecer todos os gêneros textuais existentes, pois “há gêneros para ler e gêneros para escrever, para ouvir, para falar”.
A maioria das pessoas não precisa saber escrever bula de remédio, mas a maioria delas precisa saber ler bulas. Precisamos saber onde encontrar as informações de que precisamos. Não precisamos saber escrever poemas ou textos literários, mas precisamos saber ler esses textos (a escrita desses textos pode ser um exercício linguístico e/ou lúdico, sem a obrigação de ser um texto realmente literário). Precisamos saber ler e escrever bilhetes, recados telefônicos, porque são textos frequentemente usados. [...] Mas não podemos generalizar dizendo que todo mundo tem de saber este ou aquele gênero. Isso vai depender muito da comunidade e das situações de comunicação que são mais recorrentes naquele ambiente social. (COSCARELLI, 2007, p. 83).
De acordo com o exposto, entendemos que o estudante, por estar inserido em um contexto formal de aprendizagem, necessita conhecer e se apropriar das especificidades de um gênero textual que lhe permita justamente desenvolver suas habilidades em estudo. E é nesse âmbito que está presente o campo da Prática de Estudos e Pesquisa.
Campo das Práticas de Estudo e da Pesquisa – Leitura
(EF67LP20) Realizar pesquisa, a partir de recortes e questões definidos previamente, usando fontes indicadas e abertas (BNCC, p.151,169).
(EF67LP21) Divulgar resultados de pesquisas por meio de apresentações orais, painéis, artigos de divulgação científica, verbetes de enciclopédia, podcasts científicos etc. (BNCC, p.151,169).
(EF67LP22) Produzir resumos, a partir das notas e/ou esquemas feitos, com o uso adequado de paráfrases e citações (BNCC, p.151,169).
(EF69LP29) Refletir sobre a relação entre os contextos de produção dos gêneros de divulgação científica – texto didático, artigo de divulgação científica, reportagem de divulgação científica, verbete de enciclopédia (impressa e digital), esquema, infográfico (estático e animado), relatório, relato multimidiático de campo, podcasts e vídeos variados de divulgação científica etc. – e os aspectos relativos à construção composicional e às marcas linguística características desses gêneros, de forma a ampliar suas possibilidades de compreensão (e produção) de textos pertencentes a esses gêneros (BNCC, p.151,169).
Campo das Práticas de Estudo e da Pesquisa – Produção de textos
(EF69LP35) Planejar textos de divulgação científica, a partir da elaboração de esquema que considere as pesquisas feitas anteriormente, de notas e sínteses de leituras ou de registros de experimentos ou de estudo de campo, produzir, revisar e editar textos voltados para a divulgação do conhecimento e de dados e resultados de pesquisas, tais como artigo de divulgação científica, artigo de opinião, reportagem científica, verbete de enciclopédia, verbete de enciclopédia digital colaborativa, infográfico, relatório, relato de experimento científico, relato (multimidiático) de campo, tendo em vista seus contextos de produção, que podem envolver a disponibilização de informações e conhecimentos em circulação em um formato mais acessível para um público específico ou a divulgação de conhecimentos advindos de pesquisas bibliográficas, experimentos científicos e estudos de campo realizados (BNCC, 2017, p. 153).
(EF69LP36) Produzir, revisar e editar textos voltados para a divulgação do conhecimento e de dados e resultados de pesquisas, tais como artigos de divulgação científica, verbete de enciclopédia, infográfico, infográfico animado, podcast ou vlog científico, relato de experimento, relatório, relatório multimidiático de campo, dentre outros, considerando o contexto de produção e as regularidades dos gêneros em termos de suas construções composicionais e estilos (BNCC, 2017, p. 153).
Campo das Práticas de Estudo e da Pesquisa – Oralidade
(EF69LP38) Organizar os dados e informações pesquisados em painéis ou slides de apresentação, levando em conta o contexto de produção, o tempo disponível, as características do gênero apresentação oral, a multissemiose, as mídias e tecnologias que serão utilizadas, ensaiar a apresentação, considerando também elementos paralinguísticos e cinésicos e proceder à exposição oral de resultados de estudos e pesquisas, no tempo determinado, a partir do planejamento e da definição de diferentes formas de uso da fala – memorizada, com apoio da leitura ou fala espontânea (BNCC, 2017, p. 153).
Campo das Práticas de Estudo e da Pesquisa – Análise Linguística e Semiótica
(EF69LP42) Analisar a construção composicional dos textos pertencentes a gêneros relacionados à divulgação de conhecimentos: título, (olho), introdução, divisão do texto em subtítulos, imagens ilustrativas de conceitos, relações, ou resultados complexos (fotos, ilustrações, esquemas, gráficos, infográficos, diagramas, figuras, tabelas, mapas) etc., exposição, contendo definições, descrições, comparações, enumerações, exemplificações e remissões a conceitos e relações por meio de notas de rodapé, boxes ou links; ou título, contextualização do campo, ordenação temporal ou temática por tema ou subtema, intercalação de trechos verbais com fotos, ilustrações, áudios, vídeos etc. e reconhecer traços da linguagem dos textos de divulgação científica, fazendo uso consciente das estratégias de impessoalização da linguagem (ou de pessoalização, se o tipo de publicação e objetivos assim o demandarem, como em alguns podcasts e vídeos de divulgação científica), 3ª pessoa, presente atemporal, recurso à citação, uso de vocabulário técnico/especializado etc., como forma de ampliar suas capacidades de compreensão e produção de textos nesses gêneros (BNCC, 2017, p.155).
(EF69LP43) Identificar e utilizar os modos de introdução de outras vozes no texto – citação literal e sua formatação e paráfrase –, as pistas linguísticas responsáveis por introduzir no texto a posição do autor e dos outros autores citados (“Segundo X; De acordo com Y; De minha/nossa parte, penso/amos que”...) e os elementos de normatização (tais como as regras de inclusão e formatação de citações e paráfrases, de organização de referências bibliográficas) em textos científicos, desenvolvendo reflexão sobre o modo como a intertextualidade e a retextualização ocorrem nesses textos (BNCC, 2017, p.155).
Caro professor, tendo em vista a proposta aqui apresentada, convém partirmos da noção de leitura, isto é, sob qual perspectiva iremos abordá-la. Nesse sentido, partimos da premissa que ler envolve muitos processos cognitivos. Vai desde a ativação de nossos conhecimentos prévios até as inferências elaboradas a partir do conteúdo lido e das relações que estabelecemos com as várias possibilidades que o texto nos permite.
Toda leitura pressupõe um texto escrito. Dessa forma, nesse processo estão envolvidas a codificação e a decodificação; o conhecimento prévio do significado das palavras, para uma compreensão adequada; o conhecimento prévio sobre o assunto; os suportes de produção e veiculação; a posição discursiva do autor; e, a intencionalidade do autor.
Também devemos levar em conta o tipo de texto predominante, ou seja, se é narrativo, descritivo, injuntivo, expositivo ou argumentativo; além de prevermos em que gênero textual o assunto é tratado. Se é um poema, uma carta, um texto de divulgação científica, um artigo de opinião, uma receita, um romance, um conto; qual é o tema, se meio ambiente, questão política, ambiental, etc.; que relações podemos fazer com outras disciplinas para promover a discussão interdisciplinar. Enfim, todas essas instâncias são informações importantes para definirmos a estratégia de leitura que será adotada.
Essa proposta abrange a questão ambiental, um tema que está sempre em voga, veiculado num gênero de divulgação científica. Nesse sentido, devemos ficar atentos ao tipo de linguagem empregada em tal gênero, isto é, as marcações linguísticas típicas desse modelo. Especialmente as que ancoram as impressões do pesquisador em relação aos teóricos que comprovam suas evidências. Assim, serão notáveis expressões do tipo: segundo o autor x, de acordo com os pressupostos de, ... afirma x, pesquisador da Universidade..., bem como a escrita em terceira pessoa.
Ainda, durante a tarefa a ser desenvolvida, é importante estarmos munidos de ferramentas que ajudarão o estudante a fazer as relações necessárias para a compreensão leitora. Por isso, podemos mostrar a eles sites, vídeos, filmes, livros, entre outros suportes, que poderão contribuir para uma construção de conhecimento mais ampla e enriquecedora.
As plataformas midiáticas podem ser trabalhadas independentemente dos gêneros textuais. Abaixo, pode ser conferida uma relação de atividades a serem desenvolvidas com os sites que explicam as possibilidades de cada tarefa.
Relação de sites para a produção de materiais midiáticos na sala de aula
Como criar um podcast? Gravação, ferramentas, edição, celular, estúdio, roteiro etc.:
https://www.youtube.com/watch?v=Of5A6o9J_F8
https://www.youtube.com/watch?v=lafP3i00UBk
Google Sala de Aula: possibilidades e recursos: https://edu.google.com/intl/ALL_br/products/classroom/?modal_active=none&gclsrc=aw.ds&gclid=CjwKCAiA55mPBhBOEiwANmzoQo-XZc0FhiisFQ91PizFKymEb28qGr9qYs6XZ4Ief65nEjUZzv3wBRoCKzAQAvD_BwE
Blog: como criar, possibilidades, recursos:
https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-blog/https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-blog/
https://www.tecmundo.com.br/blog
https://rockcontent.com/br/blog/como-criar-um-blog/
https://www.youtube.com/watch?v=U14WD9bBqNE
https://www.youtube.com/watch?v=X5GlHTfDNa0
https://www.youtube.com/watch?v=4krzqgsFqNo
Além da proposição desses materiais diversos que poderão ser utilizados, também a proposição da interdisciplinaridade se faz importante. Segundo Fourez (1995, p.137), ela “é percebida como uma prática essencialmente ‘política’, isto é, como uma negociação entre diferentes pontos de vista, para finalmente se decidir como uma representação considerada adequada, em vista de uma ação.” Portanto, seriam diferentes olhares acerca de um mesmo objeto. Assim, dispomos a seguir várias sugestões, de acordo com cada Componente Curricular:
Relação de sugestões para trabalhos interdisciplinares:
Dessa forma, a leitura do material que apresentamos estará conectada com a exigência de inserção das novas mídias na sala de aula, bem como promoverá a interdisciplinaridade, algo há muito valorizado na área educacional, visto que o conhecimento não se dá em caixinhas separadas, mas ele é interligado e inter-relacionado às várias áreas do saber. Isso torna o trabalho em sala de aula mais prazeroso e produtivo para o aluno, além de atender às propostas contemporâneas para o ensino.
1. Antes da leitura
Iniciar uma nova proposta de análise e interpretação textual requer pré-requisitos que possam contribuir para o olhar atento e eficaz dos alunos, capaz de levá-los a muitos questionamentos fundamentais para o trabalho com linguagem. A partir dessa ideia de oferecer aos estudantes a criação de um “terreno fértil” para a compreensão do texto, que traga diversas possibilidades de olhares e de compreensão, torna-se importante instigar a curiosidade dos leitores. A observação minuciosa de imagens possibilita que o aluno possa, antes mesmo de ter contato com o texto verbal, compreender as relações preexistentes entre a linguagem verbal e visual. Para tanto, propomos a análise das seguintes imagens:
Figura 1 - Obra "Cavalo de Troia", de Olga Beltrão
Fonte: Internet (https://www.artmajeur.com/pt/olga-beltrao/artworks/8066665/cavalo-de-troia)
Figura 2 - Imagem de tartaruga e peixes na água como elemento de introdução ao conteúdo de microplásticos nos oceanos
Fonte: Internet. Instituto Água Sustentável (https://www.aguasustentavel.org.br/blog/106-entenda-como-os-microplasticos-afetam-os-oceanos-e-o-ser-humano)
Os detalhes nas imagens, a fonte de cada uma e a intenção devem ser levados em conta, a fim de desenvolver nos alunos o olhar crítico e atento. Alguns questionamentos, que instrumentalizarão os estudantes, são fundamentais nesse momento de pré-leitura e podem ser realizados como uma enquete do tipo “pense rápido”, em grupo, em que os alunos são instigados pelo professor a pensar em voz alta:
Questões de Pré-leitura:
A partir das respostas dos alunos, é fundamental que o professor esteja preparado para oferecer a eles aquilo que não estão aptos a observar ou que ainda não tenham conhecimento suficiente. Para que haja melhor aproveitamento desse momento de “investigação” do professor, algumas abordagens são relevantes:
Abordagens Iniciais:
https://www.icmbio.gov.br/portal/
Dessa forma, contemplamos a fase inicial da pré-leitura, como elementos que ativam o conhecimento de mundo dos estudantes, permitindo-lhes fazer relações com o texto a ser lido.
2. Durante a leitura
O texto a ser explorado, “Microplásticos podem ser ‘cavalo de Troia’ para o transporte de metais”, foi publicado em uma revista dedicada a assuntos ligados à ciência, história, tecnologia, religião e saúde, entre outros, a Revista Galileu (https://revistagalileu.globo.com/). . É interessante que os estudantes tenham acesso ao site da publicação, a fim de observar detalhes, como, por exemplo: cores, tamanho e tipo de fonte, imagens, formatação e espaçamento. Além disso, sugere-se a seguinte sequência de passos para a eficiente leitura do texto em questão:
Passo 1 - Leitura individual e silenciosa: parte da compreensão do texto surge da relação existente entre ele e seu leitor. Por isso, a leitura silenciosa é relevante, pois passa a ser o primeiro contato com as palavras, as ideias e é nesse processo que as iniciativas de análise tomam forma. Vale ressaltar, ainda, a importância da orientação do professor para que o aluno marque vocábulos que não saiba o significado, períodos que chamam a sua atenção e que faça possíveis anotações sobre as ideias que surgem ao fazer a leitura. Além disso, selecionar palavras-chave é importante para que, mais tarde, os leitores possam estruturar mentalmente o texto como um todo. Serão elas, anotações e palavras-chave, que organizarão o pensamento e que serão essenciais para o momento de compartilhar as primeiras impressões com o grupo.
Passo 2 - Leitura oralizada e compartilhada: o fato de existir uma segunda leitura, agora, oralizada, contribui para que as percepções sejam partilhadas entre os alunos. É fundamental, nesta fase, que o professor permaneça como um atento mediador, faça questionamentos e que possa desenvolvê-los, a partir das contribuições dos estudantes.
Observados esses dois passos fundamentais, é hora da prática. Se possível, é importante que o professor busque o texto na fonte de publicação, com vistas a propiciar o contato direto do estudante com a materialidade do texto no seu suporte.
3. Após a leitura
De “posse” das ideias principais do texto, inicia-se a manipulação lexical e, para isso, algumas perguntas podem nortear a discussão. Relacionamos as questões em três tópicos, conforme segue. As questões do Quadro 6 podem ser feitas oralmente ou por escrito. Uma opção é enviá-las como tema de casa, a ser retomado na aula seguinte.
Questões exploratórias:
As questões acima exigem mais reflexão e convém que os alunos escrevam as respostas por escrito, para, posteriormente, discuti-las em grupo. Resguardar oportunidades para a reflexão individual é importante, a fim de que todos tenham tempo de pensar, no seu ritmo.
Questões de Compreensão para o Pós-leitura:
Questões Léxico-gramaticais para o Pós-leitura:
( ) concessão ( ) condição ( ) proporção ( ) tempo ( ) consequência
Crie uma frase usando essa expressão, com o mesmo sentido.
A fim de estimular o engajamento dos alunos na ampliação de conhecimentos, sugerimos as questões abaixo:
Questões de Pesquisa para o Pós-leitura:
DEHAENE, Stanislas. O Neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Trad. Leonor Scliar-Cabral. Porto Alegre: Penso, 2012.
PISA (2018): <http://paises.qedu.org.br/pisa/?gclid=CjwKCAjw7IeUBhBbEiwADhiEMaIq5r4afj-VW-PpRoZrR07MrCuvJNEhNC2ZIjBkHhr01yK7Agl9XRoCLN0QAvD_BwE>
Referências:
BRAGA, Regina Maria; SILVESTRE, Maria de Fátima Barros. Construindo o leitor competente: atividades de leitura interativa para a sala de aula. 3. ed. São Paulo: Global, 2009.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 2017.
COSCARELLI, Carla Viana. Gêneros textuais na escola. Veredas, Juiz de Fora, v. 11, n. 2, p. 78-86, 2007. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/veredas/article/view/25208. Acesso em: 7 out. 2021.
DEHAENE, Stanilslas. O Neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Trad. Leonor Scliar-Cabral. Porto Alegre: Penso,2012.
DELL’ISOLA, Regina Lúcia Péret. Retextualização de gêneros escritos. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.
FOUREZ, G. A Construção das Ciências introdução à filosofia e à ética das ciências. São Paulo. Editora UNESP, 1995.
FOUREZ, G. Alfabetización científica y tecnológica. Acerca de las finalidades de la enseñanza de las ciencias. Buenos Aires, Argentina: Ediciones Colihue, 1997.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In: KARWOSKI, A. M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, S. (orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. p. 23-36.
______. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.
PERFETTI; C.The lexical quality hypothesis. In.: STUDIES IN WRITTEN LANGUAGE AND LITERACY. ISSN 0929-7324, 2002.
______. Reading Ability: Lexical Quality to Comprehension. In.: SCIENTIFIC STUDIES OF READING, 11:4, 357-383, DOI: 10.1080/10888430701530730, 2007.
Revista Galileu. Ed. Globo. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2021/08/microplasticos-podem-ser-cavalo-de-troia-para-o-transporte-de-metais.html Publicado em 10/08/2021. Acesso em 28/08/2021.
1. Introdução
A leitura de textos literários além de prazerosa é uma atividade de grande aprendizado. A partir dela, o estudante pode ampliar seus conhecimentos culturais, aprofundar suas reflexões, despertar a imaginação e melhorar seu desempenho em leitura e escrita.
Nesse sentido, apresentamos uma proposta de trabalho com um texto muito conhecido no meio escolar: “O homem que sabia javanês”, de Lima Barreto, um clássico nacional. Com ele, buscamos explorar os elementos da narrativa, bem como promover uma reflexão crítica acerca dos valores comportamentais dos brasileiros, com vistas a propiciar um posicionamento dos estudantes diante de tais provocações.
Fazemos, ainda, relações com outros gêneros textuais que vêm a somar no nosso trabalho. O intuito da proposta é fazer o estudante perceber como o texto literário pode auxiliar na sua imersão literária, permitir-lhe a aquisição de vocabulário, observar a intertextualidade, além de ajudá-lo na sua formação de opinião. Para tanto, traçamos um percurso teórico, a organização dos momentos de pré-leitura, leitura e pós-leitura; a proposição das atividades e sugestões de links de sites para uma possível produção textual com gêneros textuais diversificados.
Ainda, o conto faz parte de uma coletânea organizada por Moacyr Scliar, outro grande escritor da literatura brasileira. Assim, importa também conhecer a sua biografia, bem como o suporte onde o texto está inserido, isto é, o próprio objeto livro, no que se refere à sua composição. Dessa forma, para que não haja uma mistura nas informações, o estudo do autor organizador, bem como o do livro pode preceder o estudo do texto propriamente dito. Dessa forma, busca-se apresentar um material bem completo que possa auxiliar na aula de Língua Portuguesa, abrangendo todos os elementos que circundam o texto literário aqui abordado.
2. O gênero conto
Os gêneros literários estão organizados de acordo com uma estrutura, um estilo e a recepção junto ao leitor. De modo geral, são classificados de três tipos: épico, lírico, dramático, em que do primeiro originou-se o narrativo, o qual modernamente é o gênero que mais ampliou o texto em prosa.
Dessa forma, há alguns tipos tradicionais de narrativas, quais sejam: romance, novela, conto e crônica. Neste caso, vamos apresentar uma proposta de um conto, portanto, cabem algumas conceituações acerca desse gênero.
O conto é caracterizado como uma narrativa mais curta que o romance, por exemplo, mas que mantém os mesmos elementos, tais como: conflito, tempo, espaço e personagens. No caso do conto, por ser uma narrativa curta, o conflito apresenta-se condensado, cuja característica de síntese traz:
(i) número reduzido de personagens ou tipos; (ii) esquema temporal e ambiental econômico, muitas vezes, restrito; (iii) uma ou poucas ações, concentrando os eventos e não permitindo intrigas secundárias como no romance ou na novela; e (iv) uma unidade de técnica e de tom (fracção dramática, sedutora, em que tempo, espaço e personagem se fundem, muitas vezes) que o romance não mantém. (COSTA, 2014, p. 86-87).
Vamos começar pelo narrador. Ele não é o autor, mas uma entidade de ficção que narra em primeira ou terceira pessoa. Quando a narrativa acontece em primeira pessoa, chamamos-o de personagem-narrador. Caso esse tenha uma participação secundária, evidenciar-se-á a sua função de narração, mas se ele for o principal agente das ações, então, a sua função será além de narrador, a de personagem principal. Enquanto que o narrador em terceira pessoa é chamado de narrador onisciente, pois conhece toda a história.
O enredo é a própria história. É o desenrolar das ações das personagens. Esses, por sua vez, organizam-se em três grupos: os protagonistas, os antagonistas e os secundários. Os primeiros podem ser retratados como personagens idealizados ou com perfil mais próximo do real. Já os antagonistas, são aqueles que se opõem aos protagonistas para gerar o conflito da ação. Por fim, os secundários desenvolvem ações que não são tão relevantes para a história, mas têm a sua parcela de contribuição no enredo. O tempo da história pode ser a marcação cronológica ou psicológica das personagens. O lugar, por seu turno, trata-se do cenário em que as ações se sucedem.
3. Da importância da Literatura na escola
Segundo Zilbermann (1998, p.21), a leitura literária desenvolvida na escola busca um aspecto comum entre a escola e a literatura, isto é: “a natureza formativa. De fato, tanto a obra de ficção como a instituição do ensino estão voltadas à formação do indivíduo ao qual se dirigem”. Dessa forma, resta saber como a literatura procede.
Ela sintetiza, por meio dos recursos da ficção, uma realidade, que tem amplos pontos de contato com o que o leitor vive cotidianamente. Assim, por mais exacerbada que seja a fantasia do escritor ou mais distanciadas e diferentes as circunstâncias de espaço e tempo dentro das quais uma obra é concebida, o sintoma de sua sobrevivência é o fato de que ela continua a se comunicar com o destinatário atual, porque ainda fala de seu mundo, com suas dificuldades e soluções, ajudando-o, pois, a conhecê-lo melhor. (ZILBERMAN, 1998, p.22).
Em outras palavras, a literatura que atinge, em todos os tempos, o seu leitor cumpre seu papel porque “o que a ficção lhe sugere é uma visão de mundo que ocupa as lacunas resultantes de sua restrita experiência existencial, através de sua linguagem simbólica (ZILBERMAN, 1998, p.23). Entende-se que, a partir desta linguagem, o leitor reconstrói seu mundo e a si próprio, visto que encontra na literatura a expressão do que sente e vive, fazendo como se posicione diante uma determinada situação.
Além disso, acerca dos textos literários, a Base Nacional Comum Curricular - BNCC (2017, p. 87) nos traz a competência número 9, a qual enfatiza que ao estudante deve
9.Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura.
Para a BNCC (2017), há os diferentes campos de atuação humana e, entre eles, o artístico-literário. Neste aparte, o documento informa:
CAMPO ARTÍSTICO-LITERÁRIO – O que está em jogo neste campo é possibilitar às crianças, adolescentes e jovens dos Anos Finais do Ensino Fundamental o contato com as manifestações artísticas e produções culturais em geral, e com a arte literária em especial, e oferecer as condições para que eles possam compreendê-las e fruí-las de maneira significativa e, gradativamente, crítica. Trata-se, assim, de ampliar e diversificar as práticas relativas à leitura, à compreensão, à fruição e ao compartilhamento das manifestações artístico-literárias, representativas da diversidade cultural, linguística e semiótica, por meio: - da compreensão das finalidades, das práticas e dos interesses que movem a esfera artística e a esfera literária, bem como das linguagens e mídias que dão forma e sustentação às suas manifestações; - da experimentação da arte e da literatura como expedientes que permitem (re)conhecer diferentes maneiras de ser, pensar, (re)agir, sentir e, pelo confronto com o que é diverso, desenvolver uma atitude de valorização e de respeito pela diversidade; - do desenvolvimento de habilidades que garantam a compreensão, a apreciação, a produção e o compartilhamento de textos dos diversos gêneros, em diferentes mídias, que circulam nas esferas literária e artística. Para que a experiência da literatura – e da arte em geral – possa alcançar seu potencial transformador e humanizador, é preciso promover a formação de um leitor que não apenas compreenda os sentidos dos textos, mas também que seja capaz de frui-los. Um sujeito que desenvolve critérios de escolha e preferências (por autores, estilos, gêneros) e que compartilha impressões e críticas com outros leitores-fruidores (BNCC, 2018, p.156).
Portanto, as manifestações literárias são imprescindíveis na formação do leitor infantojuvenil, pois abre-lhe muitas possibilidades de crescimento intelectual, humanizador e de aprendizagens por meio da leitura.
Campo Artístico-Literário – Leitura
(EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.
(EF69LP45) Posicionar-se criticamente em relação a textos pertencentes a gêneros como quarta-capa, programa (de teatro, dança, exposição etc.), sinopse, resenha crítica, comentário em blog/vlog cultural etc., para selecionar obras literárias e outras manifestações artísticas (cinema, teatro, exposições, espetáculos, CD´s, DVD´s etc.), diferenciando as sequências descritivas e avaliativas e reconhecendo-os como gêneros que apoiam a escolha do livro ou produção cultural e consultando-os no momento de fazer escolhas, quando for o caso.
(EF69LP47) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo.
Campo Artístico-Literário – Produção de textos
(EF69LP51) Engajar-se ativamente nos processos de planejamento, textualização, revisão/ edição e reescrita, tendo em vista as restrições temáticas, composicionais e estilísticas dos textos pretendidos e as configurações da situação de produção – o leitor pretendido, o suporte, o contexto de circulação do texto, as finalidades etc. – e considerando a imaginação, a estesia e a verossimilhança próprias ao texto literário.
Campo Artístico-Literário – Oralidade
(EF69LP53) Ler em voz alta textos literários diversos – como contos de amor, de humor, de suspense, de terror; crônicas líricas, humorísticas, críticas; bem como leituras orais capituladas (compartilhadas ou não com o professor) de livros de maior extensão, como romances, narrativas de enigma, narrativas de aventura, literatura infantojuvenil, – contar/recontar histórias tanto da tradição oral (causos, contos de esperteza, contos de animais, contos de amor, contos de encantamento, piadas, dentre outros) quanto da tradição literária escrita, expressando a compreensão e interpretação do texto por meio de uma leitura ou fala expressiva e fluente, que respeite o ritmo, as pausas, as hesitações, a entonação indicados tanto pela pontuação quanto por outros recursos gráfico-editoriais, como negritos, itálicos, caixa-alta, ilustrações etc., gravando essa leitura ou esse conto/reconto, seja para análise posterior, seja para produção de audiobooks de textos literários diversos ou de podcasts de leituras dramáticas com ou sem efeitos especiais e ler e/ou declamar poemas diversos, tanto de forma livre quanto de forma fixa (como quadras, sonetos, liras, haicais etc.), empregando os recursos linguísticos, paralinguísticos e cinésicos necessários aos efeitos de sentido pretendidos, como o ritmo e a entonação, o emprego de pausas e prolongamentos, o tom e o timbre vocais, bem como eventuais recursos de gestualidade e pantomima que convenham ao gênero poético e à situação de compartilhamento em questão.
Campo Artístico-Literário – Análise Linguística e Semiótica
(EF69LP54) Analisar os efeitos de sentido decorrentes da interação entre os elementos linguísticos e os recursos paralinguísticos e cinésicos, como as variações no ritmo, as modulações no tom de voz, as pausas, as manipulações do estrato sonoro da linguagem, obtidos por meio da estrofação, das rimas e de figuras de linguagem como as aliterações, as assonâncias, as onomatopeias, dentre outras, a postura corporal e a gestualidade, na declamação de poemas, apresentações musicais e teatrais, tanto em gêneros em prosa quanto nos gêneros poéticos, os efeitos de sentido decorrentes do emprego de figuras de linguagem, tais como comparação, metáfora, personificação, metonímia, hipérbole, eufemismo, ironia, paradoxo e antítese e os efeitos de sentido decorrentes do emprego de palavras e expressões denotativas e conotativas (adjetivos, locuções adjetivas, orações subordinadas adjetivas etc.), que funcionam como modificadores, percebendo sua função na caracterização dos espaços, tempos, personagens e ações próprias de cada gênero narrativo.
Caro professor, apresentamos a seguir uma relação de sites de mídias diversas para instrumentalizá-lo, caso deseje desenvolver com a turma outras atividades relacionadas às mídias digitais, entre elas, como criar um podcast, realizar gravação, as ferramentas necessárias para edição, para uso com celular ou estúdio e roteiro de atividades. As plataformas midiáticas podem ser trabalhadas independente dos gêneros textuais. Abaixo, pode ser conferida uma relação de atividades a serem desenvolvidas com os sites que explicam todas as possibilidades de cada tarefa.
Relação de sites para a produção de materiais midiáticos na sala de aula
Como criar um podcast? Gravação, ferramentas, edição, celular, estúdio, roteiro etc.:
https://www.youtube.com/watch?v=Of5A6o9J_F8
https://www.youtube.com/watch?v=lafP3i00UBk
Google Sala de Aula: possibilidades e recursos:
Blog: como criar, possibilidades, recursos:
https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-blog/https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-blog/
https://www.tecmundo.com.br/blog
https://rockcontent.com/br/blog/como-criar-um-blog/
https://www.youtube.com/watch?v=U14WD9bBqNE
https://www.youtube.com/watch?v=X5GlHTfDNa0
https://www.youtube.com/watch?v=4krzqgsFqNo
Dessa forma, a leitura do material que apresentamos estará conectada com a exigência de inserção das novas mídias na sala de aula, bem como promoverá a interdisciplinaridade, algo há muito valorizado na área educacional, visto que conhecimento não se dá em caixinhas separadas, mas ele é interligado e inter-relacionado às várias áreas do saber. Isso torna o trabalho em sala de aula mais prazeroso e produtivo para o aluno, além de atender às propostas contemporâneas para o ensino.
Antes de iniciar a proposta que será dirigida aos alunos, é importante que o professor conheça o autor e o contexto em que o texto foi produzido. Algumas dessas informações poderão ser compartilhadas com os alunos, na medida em que o professor considerá-las oportunas.
Quem foi Moacyr Scliar?
Moacyr Jaime Scliar, ou apenas Moacyr Scliar, foi escritor brasileiro, médico e professor universitário. Nasceu em Porto Alegre em 23 de março de 1937 em uma família de origem judaica e faleceu na mesma cidade em 27 de fevereiro de 2011. Foi colunista dos jornais Zero Hora e Folha de São Paulo. Escreveu mais de setenta livros em diversos gêneros e traduzidos para vários idiomas. É o sétimo ocupante da cadeira n. 31 da Academia Brasileira de Letras. Por suas escritas, recebeu vários prêmios. (ACADEMIA.ORG).
Seu legado literário envolve a temática do imigrante judeu, bem como temáticas relacionadas à prática da medicina, da doença e da morte. É considerado um dos escritores mais representativos da literatura brasileira da atualidade. Algumas de suas principais obras são A Guerra no Bom Fim, O Exército de um Homem Só, O Centauro no Jardim, A Estranha Nação de Rafael Mendes, A Majestade do Xingu, A Paixão Transformada: História da Medicina na Literatura.
Quem foi Lima Barreto?
O foco da atividade é um conto de Afonso Henriques de Lima Barreto. Ele nasceu em Laranjeiras no Rio de Janeiro em 15 de maio de 1981 e faleceu na mesma cidade em primeiro de novembro de 1922. Estudou no Colégio Pedro II. Trabalhou no âmbito do jornalismo e no funcionalismo público. Foi um importante escritor pré-modernista, autor de várias obras, entre elas “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, “Triste Fim de Policarmo Quaresma”, “Clara dos Anjos”. Muito de sua escrita revela a sua experiência como jornalista. Seu estilo de escrita revela uma linguagem de estilo objetivo e informal. Descreve com clareza e simplicidade as particularidades o cotidiano das classes suburbanas e desprivilegiadas do Rio de Janeiro, apresentando a desigualdade social, o preconceito racial sofrido pelos negros e mestiços, além de abordar os desmandos na política de sua época.
O conto “O homem que falava javanês” tem como personagens principais Castelo, o amigo Castro e o Barão de Jacuacanga. Nessa história, observa-se uma crítica ao falso intelectual. Um homem que pretende conquistar um emprego sob pretexto de falar uma língua que ninguém conhece.
1. Antes da leitura
A presente proposta de análise de texto desenvolve-se acerca do gênero conto e, por isso, requer do mediador da leitura um cuidado com a preparação para o momento de conhecer o texto, já que se torna necessário contextualizar o aluno-leitor sobre o autor e a época em que foi escrito. Além disso, vale dialogar com os leitores a partir da ideia de “deslocamento de lugar”, aqui entendido como o importante processo de “ir para outro ponto de vista” a fim de compreender, de forma mais aprofundada, a narrativa que se vai ler.
O fato de a leitura estar sendo planejada para adolescentes faz com que tenhamos a preocupação de realmente considerar o aspecto de direcionar o olhar, pois é relevante que a compreensão parta daquilo que já é de conhecimento do estudante. Nesse sentido, como preparação inicial, sugerimos a leitura da tirinha a seguir:
Nesse caso, é importante discutir com o estudante sobre questões éticas na sociedade. Essas atitudes expressadas na tirinha revelam a índole de muitas pessoas e que são, muitas vezes, normalizadas na sociedade brasileira, tendo em vista a perspectiva da impunidade.
Além dessa tirinha, também podemos fazer uma relação com a personagem Zé Carioca, conforme segue:
Nesse caso, convém propor algumas perguntas norteadoras:
A partir das respostas dos alunos, é fundamental que o professor esteja preparado para apresentar a eles o que, talvez, não estejam prontos para observar ou que ainda não tenham bagagem de leitura suficiente. Para que haja melhor aproveitamento desse momento de mediação do professor, algumas abordagens são relevantes:
2. Durante a leitura
O texto a ser explorado, “O homem que sabia javanês”, foi publicado em uma obra organizada por Moacyr Scliar, com publicação pela editora SM. É interessante que os estudantes tenham acesso ao livro, para que percebam, com detalhes, a sua estrutura, as análises elaboradas, a biografia dos autores selecionados, a capa, as cores, as ilustrações. Além disso, é importante ter conhecimento do autor e da ilustradora. Para esse processo, sugere-se a seguinte sequência de passos para a eficiente leitura do texto em questão:
Passo 1 - Leitura individual e silenciosa: parte da compreensão do texto surge da relação existente entre ele e seu leitor. Por isso, a leitura silenciosa é relevante, pois passa a ser o primeiro contato com as palavras, as ideias e é nesse processo que as iniciativas de análise tomam forma. Vale ressaltar, ainda, a importância da orientação do professor para que o aluno marque vocábulos que não saiba o significado, períodos que chamam a sua atenção e que faça possíveis anotações sobre as ideias que lhe passam ao fazer a leitura. Além disso, selecionar palavras-chave é importante para que, mais tarde, os leitores possam estruturar mentalmente o texto como um todo. Serão elas, anotações e palavras-chave, que organizarão o pensamento e que serão essenciais para o momento de compartilhar as primeiras impressões com o grupo.
Passo 2 - Leitura oralizada e compartilhada: o fato de existir uma segunda leitura, agora, oralizada, contribui para que as percepções sejam partilhadas entre os alunos. É fundamental, nesta fase, que o professor permaneça como um atento mediador, faça questionamentos e que possa desenvolvê-los, a partir das contribuições dos estudantes. Para isso, então, algumas questões são fundamentais para potencializar essa preparação.
3. Após a leitura
De “posse” das ideias principais do texto, inicia-se a manipulação lexical e, para isso, algumas perguntas devem nortear a discussão:
Questões de interpretação e compreensão:
Questões léxico-gramaticais:
REIS, C. A.; LOPES, A. C. M. Dicionário de Narratologia. Editora Almedina, 2000.
Sobre o escritor Moacyr Scliar:
https://www.academia.org.br/academicos/moacyr-scliar/biografia
Referências:
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_ 110518_versaofinal_site.pdf.
COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. 3. ed. rev. ampl. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 10. Ed. São Paulo: Global, 1998.
SCLIAR, M. Biografia de Moacyr Scliar. In: <https://www.academia.org.br/>
______. Leituras de escritor. 3. Ed. São Paulo: Edições SM, 2015.
1. Introdução
As crônicas têm um estilo próprio para fisgar seu leitor. Trata-se de um texto que traz à tona temas recorrentes do dia a dia; apresenta uma linguagem bastante próxima de quem a lê, uma extensão curta, dado seus assuntos corriqueiros e sempre atuais, fazem com que seja um gênero muito procurado por professores de Língua Portuguesa. A origem da palavra crônica é do latim chronica que significava, no início do Cristianismo, o relato de acontecimentos em sua ordem cronológica, daí sua efemeridade em relação às temáticas apresentadas.
Esse gênero traz à sala de aula a percepção aguçada sobre o tempo e o espaço do “agora”, o que, de certa forma, é bastante propício para alunos adolescentes. A maneira como o texto trata desse “hoje” pode se tornar uma ferramenta fundamental para conquistar novos leitores. Sob esse viés, apresentamos uma proposta de trabalho a partir do texto Menas Laranjas, de Kledir Ramil. Com ele, buscamos explorar a forma de escrita de uma crônica, bem como promover uma reflexão crítica acerca da temática dos usos da Língua Portuguesa, da ideia de ‘certo’ e ‘errado’ na nossa fala, do uso e do estudo da gramática normativa nas escolas e, ainda, sobre preconceito linguístico, com vistas a propiciar um posicionamento dos estudantes diante de tais provocações.
Para tanto, traçamos um percurso teórico, a organização dos momentos de pré-leitura, leitura e pós-leitura; a proposição das atividades e sugestões de links de sites para uma possível produção textual com gêneros textuais diversificados. Segundo Saussure (2016, p. 13), “a matéria da Linguística é constituída inicialmente por todas as manifestações da linguagem humana, quer se trate de povos selvagens ou de nações civilizadas, de épocas arcaicas, clássicas ou em decadência, considerando-se em cada período não só a linguagem correta e a “bela linguagem”, mas todas as formas de expressão”.
Logo, importa reconhecer que há diferentes idiomas que caracterizam determinados povos e, dentre esses idiomas, há múltiplas variedades linguísticas próprias que compõem os modos de expressão de seus falantes. Dessa forma, a norma-padrão surge como um elemento que estabelece determinada “ordem”, um “padrão”, especialmente na escrita, para que se preserve uma unidade organizacional e de significação do léxico de uma comunidade.
Ao se pensar em escrita como fator padronizado, social e convencional, não se pode esquecer que a fala é o seu contraponto. Ou seja, ela é individual, momentânea, espontânea. E é justamente na oralidade que ocorrem os aspectos informais da língua, como o uso de gírias, trocas de “l” por “r” ou vice-versa (por exemplo: célebro no lugar de cérebro, prástico no lugar de plástico, etc.) , supressão do “r” ou “s” no final das palavras (por exemplo: Duas menina no lugar de Duas meninas, Vou fala com ele em vez de Vou falar com ele) , etc.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017, p. 87), na Competência número 1, está exposto que o estudante precisa: 1.Compreender a língua como fenômeno cultural, histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo-a como meio de construção de identidades de seus usuários e da comunidade a que pertencem. Ainda, segundo o documento, consideramos importante para essa atividade o desenvolvimento das seguintes habilidades (EF69LP55) Reconhecer as variedades da língua falada, o conceito de norma-padrão e o de preconceito linguístico; e (EF69LP56) Fazer uso consciente e reflexivo de regras e normas da norma-padrão em situações de fala e escrita nas quais ela deve ser usada (BNCC, 2017, p. 161).
Segundo Benveniste (2006, p.93), “a linguagem é para o homem um meio, na verdade, o único meio de atingir o outro homem, de lhe transmitir e de receber dele uma mensagem. Consequentemente, a linguagem exige e pressupõe o outro. A partir desse momento, a sociedade é dada com a linguagem.” Para Cereja e Magalhães (2012, p. 36), a norma-padrão da língua é uma espécie de ‘lei’ que orienta o uso social da língua. Essa norma-padrão é a que está registrada nos dicionários e nos livros de gramática”.
Nesse sentido, entendemos que a norma-padrão, é ensinada na escola como variedade de prestígio, mas ela, obviamente, não é usada em todos os momentos da vida, mas em contextos mais formais.
Há momentos descontraídos, em que ela não é necessária, mas há momentos em que ela é obrigatória, como quando fazemos uma entrevista para conseguir um emprego, quando apresentamos um trabalho escolar, participamos de um debate, escrevemos uma carta para uma autoridade pública, redigimos um requerimento, etc. Dada a importância da norma-padrão, a escola se propõe a ensiná-la a todas as crianças e jovens do país, preparando-os para ingressar na vida social. (CEREJA; MAGALHÃES, 2012, p. 36).
Contudo, não se pode desprezar as demais variedades linguísticas, visto que a língua, enquanto organismo vivo, modifica-se conforme o seu uso pelos falantes. Algumas expressões caem em desuso, enquanto outras surgem de acordo com as modificações dos aparatos sociais quando de sua organização. Isso é muito perceptível hoje com o advento de novas tecnologias, em que há vários vocábulos novos, bem como maneiras de se expressar e escrever, como o chamado internetês, por exemplo. Porém, o que se discute aqui, além dessas novas possibilidades, são também as diferenças entre os falares das diversas camadas sociais. Nesse caso, entram as variedades linguísticas que não seguem a norma-padrão. Entre elas, estão, por exemplo, os falares de pessoas de baixa escolaridade ou analfabetas, ou mesmo de rendas mais baixas, que são consideradas de menos prestígio e, portanto, são aquelas que sofrem com o preconceito linguístico. Algo que, enquanto educadores, devemos esclarecer para os estudantes, a fim de que tenham a dimensão desse preconceito e que não o perpetuem, uma vez que “pessoas de baixa escolaridade, ou vindas do interior, ou vindas de regiões distantes dos grandes centros urbanos podem ser ridicularizadas ou inferiorizadas por falarem uma variedade diferente daquela prestigiada socialmente” (CEREJA; MAGALHÃES, 2012, p. 36).
Ainda, segundo Cereja e Magalhães (2016, p. 36), do ponto de vista linguístico, “não existe uma variedade linguística melhor ou mais correta do que a outra. Mesmo que uma variedade seja bastante diferente da norma-padrão, ela será boa se permitir aos seus falantes se comunicar e interagir de modo eficiente.” Dessa forma, é importante que o estudante perceba, nas diferentes situações comunicativas, qual é a variedade linguística mais adequada.
Dentre a grande variedade de gêneros textuais existentes, o presente trabalho propõe atividades relacionadas ao gênero crônica, que consiste numa narração curta, geralmente produzida para meios de comunicação como, por exemplo, jornais, revistas e sites. Trata de acontecimentos do cotidiano e está situada entre o jornalismo e a literatura, pois pode conter elementos reais e/ou fictícios. De acordo com Costa (2014), a crônica, com relação ao estilo, geralmente é breve, simples e exerce a interlocução direta com o leitor, com marcas típicas da oralidade.
Originária dos folhetins publicados no início do jornalismo, em meio a manchetes, notícias, reportagens, editoriais etc., é leve e rápida, construindo um lugar de familiaridade para a relação enunciador/enunciatário, numa cenografia de conversa amena, diferentemente, por exemplo, do editorial que recupera os fatos midiáticos de maneira mais densa e formal. Sem regras preestabelecidas, como se dá com a manchete ou a notícia de primeira página, construindo ilusão, a crônica jornalística consolida o simulacro de relato informal de um ‘causo’. (COSTA, 2014, p. 93).
Portanto, por suas características constitutivas, a crônica jornalística nos permite explorar diversas temáticas, entre elas a da variação linguística, que contribui inclusive para a verossimilhanças das personagens.
Jornalístico/Midiático e Artístico-Literário – Leitura
EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.
(EF69LP47) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo.
(EF69LP48) Interpretar, em poemas, efeitos produzidos pelo uso de recursos expressivos sonoros (estrofação, rimas, aliterações etc), semânticos (figuras de linguagem, por exemplo), gráficoespacial (distribuição da mancha gráfica no papel), imagens e sua relação com o texto verbal.
Jornalístico/Midiático e Artístico-Literário – Oralidade
(EF69LP53) Ler em voz alta textos literários diversos – como contos de amor, de humor, de suspense, de terror; crônicas líricas, humorísticas, críticas; bem como leituras orais capituladas (compartilhadas ou não com o professor) de livros de maior extensão, como romances, narrativas de enigma, narrativas de aventura, literatura infantojuvenil, – contar/recontar histórias tanto da tradição oral (causos, contos de esperteza, contos de animais, contos de amor, contos de encantamento, piadas, dentre outros) quanto da tradição literária escrita, expressando a compreensão e interpretação do texto por meio de uma leitura ou fala expressiva e fluente, que respeite o ritmo, as pausas, as hesitações, a entonação indicados tanto pela pontuação quanto por outros recursos gráfico-editoriais, como negritos, itálicos, caixa-alta, ilustrações etc., gravando essa leitura ou esse conto/reconto, seja para análise posterior, seja para produção de audiobooks de textos literários diversos ou de podcasts de leituras dramáticas com ou sem efeitos especiais e ler e/ou declamar poemas diversos, tanto de forma livre quanto de forma fixa (como quadras, sonetos, liras, haicais etc.), empregando os recursos linguísticos, paralinguísticos e cinésicos necessários aos efeitos de sentido pretendidos, como o ritmo e a entonação, o emprego de pausas e prolongamentos, o tom e o timbre vocais, bem como eventuais recursos de gestualidade e pantomima que convenham ao gênero poético e à situação de compartilhamento em questão.
Jornalístico/Midiático e Artístico-Literário – Análise linguística e semiótica
(EF69LP55) Reconhecer as variedades da língua falada, o conceito de norma-padrão e o de preconceito linguístico.
(EF69LP56) Fazer uso consciente e reflexivo de regras e normas da norma-padrão em situações de fala e escrita nas quais ela deve ser usada.
Caro professor, trabalhar com os diferentes gêneros textuais traz riqueza de conteúdos e formas diferentes de abordagem do conhecimento. Em se tratando de leituras curtas, rápidas, mas não menos importantes no que diz respeito a reflexões profundas sobre o uso da língua e a relação entre os falantes, está a crônica. A crônica Menas laranjas, em especial, aborda uma temática importante sobre o entendimento de como a língua é manipulada, revelando com criticidade os modos de articulação da língua conforme o hábito de seus usuários.
Nesse sentido, é papel da escola o reconhecimento das variedades linguísticas e a preparação para o emprego da língua segundo as situações de comunicação envolvidas, proporcionando aos estudantes uma reflexão metalinguística, além de permitir a compreensão de dimensões sociais sobre o combate ao preconceito linguístico.
Logo, é fundamental a leitura atenta de conceitos já apresentados na fundamentação teórica. Ademais, se o professor desejar articular o conhecimento da aula aos recursos tecnológicos, com a construção de podcasts, documentários, blogs, entre outras possibilidades, apresentamos algumas plataformas midiáticas que podem auxiliar na fixação dos conteúdos e disseminação das ideias construídas.
A seguir, pode ser conferida uma relação de sites que explicam possibilidades uso das ferramentas, que podem ser adequadas aos objetivos de aprendizagem.
Relação de sites para a produção de materiais midiáticos na sala de aula
Como criar um podcast? Gravação, ferramentas, edição, celular, estúdio, roteiro etc.:
https://www.youtube.com/watch?v=Of5A6o9J_F8
https://www.youtube.com/watch?v=lafP3i00UBk
Google Sala de Aula: possibilidades e recursos:
Blog: como criar, possibilidades, recursos:
https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-blog/https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-blog/
https://www.tecmundo.com.br/blog
https://rockcontent.com/br/blog/como-criar-um-blog/
https://www.youtube.com/watch?v=U14WD9bBqNE
https://www.youtube.com/watch?v=X5GlHTfDNa0
https://www.youtube.com/watch?v=4krzqgsFqNo
Dessa forma, a leitura do material que apresentamos estará conectada com a exigência de inserção das novas mídias na sala de aula.
1. Antes da leitura
É fato que um texto que será discutido e minuciosamente trabalhado com os alunos requer um ciclo de possibilidades e de questionamentos prévios para que o estudante possa construir suas próprias conexões e conclusões sobre as tantas nuances relacionadas à temática abordada. Não raras vezes, os professores indicam leituras de escritores regionais, por exemplo, pois acreditam que os autores clássicos são os que devem ser (re)conhecidos pelos adolescentes. Entretanto, sem invalidar as importantes leituras clássicas, acreditamos que há muitos textos e escritores contemporâneos que contribuem para eficazes relações e percepções de mundo, tão significativas para o contexto do adolescer.
Nesse sentido, nossa proposta busca capturar essas escritas originais e, ao mesmo tempo, recorrentes entre os alunos, já que a escolha textual é uma crônica que trata dos diferentes usos da língua portuguesa, o que compreendemos por “erro”, por “adequado” ou “inadequado” e, ainda, sobre preconceito linguístico. Reconhecer quais são os objetivos ao selecionar um texto é de real importância para o fazer do professor. A primeira questão a ser sempre respondida nesse momento de escolhas é: “Por que este texto e não outro?”.
O texto a ser abordado, “Menas laranjas”, é de um escritor gaúcho, que tem relação intrínseca com a língua portuguesa falada na região sul. De início, é fundamental que os alunos saibam de quem se fala. Nesse momento, apresentar uma breve biografia de Kledir Ramil é interessante, porque o autor deixa de ser “algo divino” e passa a ser alguém mais próximo, talvez da mesma região que a dos alunos. Além disso, vale lembrar que há muitas e excelentes canções do compositor/escritor que podem dar sequência ao trabalho aqui apresentado como uma proposta. Kledir Ramil nasceu em Pelotas, Rio Grande do Sul, em 1953, e se consagrou em todo o país com a bem-sucedida dupla Kleiton & Kledir, que forma com seu irmão desde 1980. Em 2003, publicou uma coletânea de crônicas Tipo Assim (RBS), foi colunista do jornal Zero Hora, de Porto Alegre; e, em 2006, lançou O pai invisível, com temáticas envolvendo pais e adolescentes. Seu livro Viagem a par ou ímpar, também é voltado para o público infantojuvenil (Site Agência RIFF).
O poema que faz contraponto com a crônica é de Patativa do Assaré (1909-2002), poeta e repentista brasileiro, representante da arte popular nordestina do século XX. Sua escrita apresenta uma linguagem poética simples, sobre a vida sofrida e árida do povo do sertão. Ganhou projeção nacional com o poema "Triste Partida" de 1964, musicado e gravado por Luiz Gonzaga. (Site Ebiografia). Outro aspecto importante é a observação atenta do livro físico ou digital. Nossa perspectiva, às vezes, precisa de outro olhar que nos guie para realmente vermos o que é significativo. Vejamos as duas capas das obras aqui apresentadas:
Convide os alunos a compará-las e observarem seus detalhes:
Essas são algumas de muitas outras questões que o professor poderá abordar com seus alunos, observando minuciosamente apenas a capa e relacionando-a com os textos que serão lidos. Aqui, a obra deixa de ser do outro e passa a fazer parte do “mundo do aluno”, pois algo será dito para ele, o estudante, mas este já se sentirá “parte” do processo entre texto e leitor. Essa é a diferença crucial, quando se pensa em preparação do aluno para analisar um texto, seja ele de qualquer gênero textual.
2. Durante a leitura
Para a atividade da leitura, sugere-se a seguinte sequência de passos:
Passo 1 - Leitura individual e silenciosa: parte da compreensão do texto surge da relação existente entre ele e seu leitor. Por isso, a leitura silenciosa é relevante, pois passa a ser o primeiro contato com as palavras, as ideias e é nesse processo que as iniciativas de análise tomam forma. Vale ressaltar, ainda, a importância da orientação do professor para que o aluno marque vocábulos que não saiba o significado, períodos que chamam a sua atenção e que faça possíveis anotações sobre as ideias que lhe passam ao fazer a leitura. Além disso, selecionar palavras-chave é importante para que, mais tarde, os leitores possam estruturar mentalmente o texto como um todo. Serão elas, anotações e palavras-chave, que organizarão o pensamento e que serão essenciais para o momento de compartilhar as primeiras impressões com o grupo.
Passo 2 - Leitura oralizada e compartilhada: o fato de existir uma segunda leitura, agora, oralizada, contribui para que as percepções sejam partilhadas entre os alunos. É fundamental, nesta fase, que o professor permaneça como um atento mediador, faça questionamentos e que possa desenvolvê-los, a partir das contribuições dos estudantes.
Compreendemos ser relevante a leitura do poema muito bem preparada pelo professor, já que há palavras em seu registro escrito que acentuam a modalidade falada da língua, o que deve ser respeitado no momento da leitura. Além disso, fica evidente a heterogeneidade linguística do Brasil, ou seja, as variedades tão ímpares encontradas em nosso território. Outro fator importante é a musicalidade desse poema, típico da região nordestina, aspecto que não só deve ser evidenciado, como também abordado nas questões seguintes à leitura.
Os detalhes das palavras e de seus sons e a intenção da escrita devem ser levados em conta, a fim de instigar nos alunos o olhar crítico, atento e acolhedor em relação às diferenças. Alguns questionamentos, que instrumentalizarão os estudantes, são fundamentais nesse momento de leitura:
A partir das respostas dos alunos, é fundamental que o professor esteja aberto e tenha uma fala acolhedora para oferecer a eles aquilo que, talvez, não tenham conseguido observar ou que ainda não tenham conhecimento de mundo suficiente. Para que haja melhor aproveitamento desse momento de interação do professor com sua turma, algumas abordagens são relevantes:
3. Após a leitura
De “posse” das ideias principais do texto, inicia-se a manipulação lexical e, para isso, algumas perguntas devem nortear a discussão:
Questões de interpretação:
Questões de compreensão:
Questões léxico-gramaticais:
Ispinho e Fulô lido por um cearense:
https://www.youtube.com/watch?v=t66vw_NzeUM
Referências:
ASSARÉ, Patativa do. Ispinho e fulô. São Paulo: Hedra, 2005.
______. Biografia. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/patativa_assare/> Acesso em 21-05-2022.
BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral II. Tradução de Eduardo Guimarães et. al. 2.ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2006.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação e Cultura. 2017.
CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Gramática: texto, reflexão e uso. 4.ed. São Paulo: Atual, 2012.
COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. 3. ed. rev. ampl. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
RAMIL, Kledir. Crônicas para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.
SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. Organizado por Charles Bally e Albert Sechehaye, com a colaboração de Albert Riedlinger. Prefácio da edição brasileira de Isaac Nicolau Salum. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein.27.ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
RAMIL, K. Biografia. Disponível em: <https://www.agenciariff.com.br/autores/kledir-ramil/#:~:text=Kledir%20Ramil%20nasceu%20em%20Pelotas,cheias%20de%20bossa%20e%20humor.> Acesso em 21-05-2022.
1. Introdução
As canções, quando abordadas com suporte teórico em sala de aula, podem ser uma interessante ferramenta para discussão de variadas temáticas com os adolescentes, pois os estilos musicais virão à tona e está aí a porta para debates importantes sobre os mais diferentes temas. As músicas, além de terem forte apelo social – afinal de contas, é quase raro encontrar alguém que não goste de música -, podem ser lidas com o objetivo de desenvolver a compreensão de textos. Vale lembrar que a canção é um gênero textual, parente próximo da poesia; portanto, requer compreensão daquele que ouve. Por isso, mais do que fazer da aula de Língua Portuguesa um evento comunicativo, é possível torná-la um festival da compreensão, através e com a música. Vejamos isso neste capítulo.
A música é um gênero curioso, pois requer muita atenção do seu interlocutor: ela inicia, assim como outros gêneros, com uma pré-história existente e deixa o seu interlocutor/ouvinte à mercê do que lê/ouve, exigindo desse um processo cognitivo inferencial de grande esforço. O esforço é todo direcionado à compreensão deste texto e, se bem conduzido pelo professor, terá sucesso.
Além disso, ampliar e diversificar o repertório musical pode ser um processo divertido, porque as canções traduzem uma sociedade, seus costumes, seu tempo, seus sonhos e suas mazelas. Quantas canções foram produzidas durante o período pandêmico? De que elas tratam? De carnaval e futebol? Provavelmente, não. Trazer assuntos que possam desenvolver no aluno o senso crítico e fazê-lo compreender que, nas canções, há um produto cultural e histórico é de suma importância para os processos educacionais.
2. Canções, gêneros e BNCC
Entre os gêneros literários estudados na escola está o lírico, que faz referência não somente aos poemas, mas também a músicas e canções. Assim, a canção é um gênero textual que está situado entre o campo literário e o da oralidade. O estudo da canção envolve, primeiramente, os elementos linguísticos, e em segundo lugar, os elementos extralinguísticos, como o ritmo e a melodia.
Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), alguns gêneros discursivos que pertencem à oralidade são:
(...) aula dialogada, webconferência, mensagem gravada, spot de campanha, jingle, seminário, debate, programa de rádio, entrevista, declamação de poemas (com ou sem efeitos sonoros), peça teatral, apresentação de cantigas e canções, playlist comentada de músicas, vlog de game, contação de histórias, diferentes tipos de podcasts e vídeos, dentre outras. Envolve também a oralização de textos em situações socialmente significativas e interações e discussões envolvendo temáticas e outras dimensões linguísticas do trabalho nos diferentes campos de atuação. (BNCC, 2017, p. 79, grifos nossos).
Além disso, a canção é um importante elemento cultural, por meio do qual os estudantes se apropriam das dimensões estéticas do uso da linguagem, de percepções sobre criatividade, imaginação, expressividade e também de proposições reflexivas sobre a sua realidade. Ainda, por meio do estudo de canções, podem desenvolver a produção escrita, conforme prevê a habilidade EF67LP12:
(EF67LP12) Produzir resenhas críticas, vlogs, vídeos, podcasts variados e produções e gêneros próprios das culturas juvenis (algumas possibilidades: fanzines, fanclipes, e-zines, gameplay, detonado etc.), que apresentem/descrevam e/ou avaliem produções culturais (livro, filme, série, game, canção, disco, videoclipe etc.) ou evento (show, sarau, slam etc.), tendo em vista o contexto de produção dado, as características do gênero, os recursos das mídias envolvidas e a textualização adequada dos textos e/ou produções. (BNCC, 2018, p. 165).
No que se refere ao campo artístico-literário, a canção integra o rol de gêneros discursivos previstos também nas habilidades EF69LP47, 48 e 49, as quais estabelecem, além da análise crítica das diferentes formas de composição próprias de cada gênero,
(EF69LP48) Interpretar, em poemas, efeitos produzidos pelo uso de recursos expressivos sonoros (estrofação, rimas, aliterações etc), semânticos (figuras de linguagem, por exemplo), gráfico espacial (distribuição da mancha gráfica no papel), imagens e sua relação com o texto verbal.
(EF69LP49) Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades [...]. (BNCC, 2018, p.159)
Ademais, como já mencionado na abertura deste capítulo, a canção é um gênero que permite trabalhar com um dos processos cognitivos associados à leitura de maior complexidade, a inferência.
Para entender um pouco do que vem a ser a inferência é preciso saber quer os processos de aprendizagem dividem-se em dois: cognitivos e metacognitivos. Assim, processo cognitivos são “operações inconscientes do leitor, no sentido de não ter chegado ainda ao nível consciente, que ele realiza para atingir algum objetivo de leitura” (KLEIMAN, 1993, p. 50). Portanto, as estratégias cognitivas têm o foco centrado no objetivo da leitura. Quanto às estratégias do nível metacognitivo essas “seriam aquelas operações realizadas com algum objetivo em mente, sobre as quais temos controle consciente, no sentido de sermos capazes de dizer e explicar a nossa ação” (KLEIMAN, 1993, p. 50). Ter claro qual estratégia usar e quando usar é um dos percursos que os professores, sobretudo de linguagem, devem ter em mente. Isso porque são “operações mentais envolvidas quando o leitor propositalmente aborda um texto para dar sentido ao que leu. As estratégias podem ser técnicas conscientes controladas pelo leitor ou processos inconscientes aplicados automaticamente” (BARNETT, 1989, p. 66). Um leitor ciente e consciente das suas estratégias tem mais chances de atingir a compreensão de um texto, quando comparado a outro leitor sem ciência dos processos de leitura.
A inferência é uma estratégia (meta)cognitiva, ou seja, se caracteriza por ser um “procedimentos de caráter elevado, que envolvem a presença de objetivos a serem realizados, o planejamento das ações que se desencadeiam para atingi-los, assim como sua avaliação e possível mudança” (SOLÉ, 1998, p. 70). A estratégia metacognitiva busca a “desautomatização” do conhecimento, convidando o aluno a refletir sobre o texto e o seu processo de compreensão. Nesta proposta que se apresenta, dá-se ênfase à inferência, estratégia metacognitiva de alto nível, segundo o último PISA (2018), justamente por induzir o aluno à pensar o texto e seu comportamento para compreendê-lo.
Para esta proposta, entendemos inferência como sendo “processos cognitivos nos quais os falantes ou ouvintes, partindo da informação textual e considerando o respectivo contexto, constroem uma nova representação semântica” (MARCUSCHI, 2008, p. 249), em outras palavras, a inferência é a estratégia de leitura com a qual o leitor utiliza dos seus conhecimentos já adquiridos – através do ensino formal e do convívio com o mundo – para compreender os textos com os quais interagem, na escola e na sociedade.
O processo inferencial, por ser de alto nível, requer uma atenção especial do professor na condução da leitura. Estudos de Lussani e Forneck (2019, p. 66) indicam que “o professor tem uma influência direta na leitura de texto e que a produção de inferências, a partir de estímulos oriundos do próprio texto, com auxílio do professor, possibilita uma compreensão maior do texto”. Isso porque o aluno, iniciante na leitura, precisa do direcionamento do professor que o conduzirá através das pistas linguísticas, organizacionais e semânticas do texto. O professor, ao chamar a atenção para elementos “antes despercebidos”, despertará os conhecimentos prévios indispensáveis à compreensão.
Campo artístico-literário – Leitura
(EF69LP48) Interpretar, em poemas, efeitos produzidos pelo uso de recursos expressivos sonoros (estrofação, rimas, aliterações etc), semânticos (figuras de linguagem, por exemplo), gráfico espacial (distribuição da mancha gráfica no papel), imagens e sua relação com o texto verbal.
(EF69LP49) Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades [...]. (BNCC, 2018, p.159)
Campo jornalístico-midiático – Produção de textos
(EF67LP12) Produzir resenhas críticas, vlogs, vídeos, podcasts variados e produções e gêneros próprios das culturas juvenis (algumas possibilidades: fanzines, fanclipes, e-zines, gameplay, detonado etc.), que apresentem/descrevam e/ou avaliem produções culturais (livro, filme, série, game, canção, disco, videoclipe etc.) ou evento (show, sarau, slam etc.), tendo em vista o contexto de produção dado, as características do gênero, os recursos das mídias envolvidas e a textualização adequada dos textos e/ou produções. (BNCC, 2018, p. 165).
Prezado professor, convidamos você a levar até a sua sala de aula uma música divertida e potente para a trabalhar situações reais de comunicação. A música, gênero presente em todo ambiente e muito comum e acessível aos adolescentes, é uma ferramenta exponencial para se trabalhar todos os conteúdos que se puder imaginar, basta buscar e encontrará uma música que “casa” com o conteúdo.
A proposta de utilizar a canção “Marta”, da cantora e compositora Clarice Falcão, é fazer com que o aluno possa refletir a partir de uma música divertida e de situação que é próxima a ele.
Lembre-se, também, de que você deverá ouvir a música com antecedência, já que todo texto deve ser inédito ao aluno, nunca ao professor – separe uma caixa de som para reproduzir em sala e não somente ler, os instrumentos musicais e a melodia ajudam a compreender a música. Leia este material com atenção e faça as anotações pertinentes para que possa conduzir a aula da melhor forma possível. Após o trabalho oral com a música, espera-se que os alunos possam responder perguntas de compreensão. A primeira pergunta requererá conhecimentos do que é “eu-lírico”, portanto, convém explicar aos alunos ou resgatar este conhecimento, caso não lembrem – você, professor pode se valer da canção de Caetano Veloso “Esse cara” a qual brinca com a questão do eu-lírico.
Este é um material sugestivo, inclua e modifique-o conforme a sua metodologia e nível dos alunos, mas não deixe de explorá-lo.
1. Antes da leitura
A proposta a seguir leva em consideração o gênero textual canção. Para tanto, os adolescentes precisam de certo repertório, a fim de que possam analisar as minúcias de um poema/canção. A primeira ideia fundamental é discutir com os alunos as nomenclaturas “música” e “canção”, tentando definir, a partir do conhecimento prévio do adolescente, as possíveis diferenças entre esses dois vocábulos. Outros passos tornam-se importantes nesse processo de se “apropriar do gênero” a ser estudado, um deles, já mencionado em outras propostas, é: “Por que este texto e não outro?”. Lembramos que a proposta aqui explorada, bem como as demais, parte do pressuposto de que o aluno será desafiado a pensar a linguagem a partir da própria linguagem.
O primeiro momento da compreensão dar-se-á antes da apreciação da música ou do contato com o texto. É interessante questionar os alunos sobre quem é a compositora e cantora da canção, Clarice Falcão. Caso os alunos não conheçam a cantora, pode-se apresentar a eles a entrevista concedida ao programa Arte do Artista (https://www.youtube.com/watch?v=UD_AnpoM5CA) e a síntese da sua obra (https://dicionariompb.com.br/artista/clarice-falcao/).
Leve em consideração instigar os alunos a acessarem as redes sociais da cantora (os links estão abaixo). Lembre-se de mencionar que nas redes sociais sempre aparece, de forma mais clara, os posicionamentos e os pensamentos do artista. Se for pertinente, e o grupo se mostrar interessado, pode-se questionar esta e outras músicas da cantora com o seu pensamento - a partir do que ela expõe nas redes sociais.
Entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=UD_AnpoM5CA
Síntese da obra da artista: https://dicionariompb.com.br/artista/clarice-falcao/
Perfil no Instagram: https://instagram.com/claricefalcao?igshid=NDBIY2NjN2I=
Perfil no Facebook: https://pt-br.facebook.com/daclarice
Perfil no Twitter: https://twitter.com/euclarice
Canal no YouTube: https://www.youtube.com/user/falcaoclarice/featured
Trabalho com a canção Marta
Passo 1 - É preciso informar ao leitor que a cantora e compositora Clarice Falcão busca, através da música, retratar fatos do cotidiano, em especial as relações afetivas. Uma característica da sua obra é ter toques de humor. Tal informação é importante para que o aluno responda, em especial, às questões P.10 e P.12.
No segundo momento convém refletir sobre a temática principal do texto. O questionamento que você, professor, fará, pode ser um pouco desconexo no início para os alunos, porém, como você tem conhecimento de todo o trajeto do trabalho com a leitura, poderá conduzir os alunos a uma compreensão a partir da reflexão sobre a pergunta:
Vocês já receberam ligações ou mensagens por engano? (Questione-os)
Passo 2 - A intervenção é importante para acionar as vivências particulares do leitor ou conhecimentos sobre episódios como esse que podemos classificar como comum.
Durante a conversa, a partir do questionamento, você poderá escrever no quadro o nome das pessoas com quem o indivíduo que realizou a ligação desejava falar; isto é: normalmente espera-se falar com alguém, o nome pode ser um recurso interessante de se conversar com os alunos, justamente porque, assim como na canção que será fornecida a eles, são nomes “comuns”, como Ana, João, Paula, Marta.
Já foi mencionado que é preciso ajudar o aluno na sua leitura, mas também é preciso, que no primeiro momento, seus conhecimentos, ativados anteriormente, possam conduzi-lo a sua própria compreensão. Portanto, o primeiro passo da autonomia leitora é deixar o aluno ler e compreender da sua maneira o texto. Ao entregar o texto, mencione que cada um fará uma leitura individual e silenciosa, e posteriormente lerão de forma coletiva.
Texto 1 - Marta, de Clarice Falcão
Texto 2 – Videoclipe da canção: https://www.youtube.com/watch?v=Bq0LA4S0Rvo
Marta, de Clarice Falcão
Marta, é urgente, tem gente do banco
Querendo falar com você
Eu acho que vai resolver
Marta, eu não te conheço
Marta, seu rosto é um breu
Marta, eu pago esse preço
Porque o seu número deve ser bem parecido com o meu
Marta, perdoa o pobre coitado do Carlos
Que não foi por mal
Não sei dos detalhes
Ele nas mensagens de texto parece legal
Marta, eu não te conheço
Marta, seu rosto é um breu
Marta, eu pago esse preço
Porque o seu número deve ser bem parecido com o meu
Marta, se manda que a louca da Rita
Já soube e tá indo aí
O que você fez, Marta, não é dessa vez
Mas um dia eu vou descobrir
Marta, fiquei preocupada
Achando que você morreu
Ninguém mais te liga
Sua melhor amiga
Um dia talvez fosse eu
Marta, fiquei com saudades
Mas o que é que eu posso fazer
Ninguém mais me liga
Minha melhor amiga
Eu acho que era você
Após a leitura individual e silenciosa de cada aluno, pode-se fazer uma leitura oral, ou leitura dramatizada – preferencialmente somente feita pelos alunos, a fim de que possam usar a entonação em frases interrogativas e afirmativas.
Concluída a leitura dramatizada, oportunize a audição da música, para que possam apreciá-la com instrumentos musicais também. Neste momento, pode-se fazer uma brincadeira com os alunos e levantar suposições, a partir da letra da música, se a batida da canção pertence a um gênero musical em específico ou não. A resposta virá com a reprodução da canção.
2. Durante a leitura
Antes da leitura individual e silenciosa, é preciso instruir o aluno a como ler:
Releitura guiada pelo professor com indicações de perguntas ao longo da leitura da canção
Professor, esta etapa é muito importante. Isso porque as perguntas indicadas estão associadas às questões posteriores de compreensão do texto. Introduza as questões e deixe que os alunos discutam, entre si, sobre as possíveis respostas. Lembre-se de que o seu papel é de conduzir o alunado à compreensão, portanto toda vez que a discussão sair do tópico central, resgate reafirmando a pergunta inicial ou a reformulando com outras palavras ou perguntas de apoio.
Marta, de Clarice Falcão
Marta (Quem é Marta?), é urgente, tem gente do banco
Querendo falar com você (Quem quer falar com Marta? Quando alguém do banco liga, quais são, em geral, os assuntos a serem tratados?)
Um telefonema pra sua gerente (Sua gerente refere-se a quem? Lembrar que os alunos podem não saber que os clientes de um banco costumam ter um gerente ligado a sua conta)
Eu acho que vai resolver (Quem seria "eu"? - introduzir a diferença entre autor e eu-lírico ou narrador)
Marta, eu não te conheço
Marta, seu rosto é um breu (O que significa ‘breu’ neste contexto?)
Marta, eu pago esse preço (Qual o significado da expressão pagar o preço? Em que outros contextos ela é usada?)
Porque o seu número deve ser bem parecido com o meu (O que é parecido entre o eu-lírico e Marta? Dê exemplos.)
Marta, perdoa o pobre coitado do Carlos (Quem é Carlos? Como vocês deduziram isso? Pedir que os alunos expliquem suas hipóteses - avaliar se são coerentes, deixar que os colegas apresentem contrapontos, caso discordem da interpretação)
Que não foi por mal (Para quem Carlos imagina estar mandando mensagens?)
Não sei dos detalhes
Ele nas mensagens de texto parece legal (Que mensagens de texto são essas?)
Marta, eu não te conheço
Marta, seu rosto é um breu
Marta, eu pago esse preço
Porque o seu número deve ser bem parecido com o meu
Marta, se manda que a louca da Rita (Quem é Rita?)
Já soube e tá indo aí (Onde é o “aí” mencionado pelo eu-lírico que a Rita irá?)
O que você fez, Marta, não é dessa vez
Mas um dia eu vou descobrir
Marta, fiquei preocupada
Achando que você morreu (Marta morreu?)
Ninguém mais te liga
Sua melhor amiga
Um dia talvez fosse eu (Por que “um dia talvez” fosse o eu-lírico a melhor amiga?)
Marta, fiquei com saudades (Quem “fiquei com saudades”?)
Mas o que é que eu posso fazer
Ninguém mais me liga
Minha melhor amiga
Eu acho que era você
P1. Quem é Marta? A partir da leitura, o leitor terá diferentes informações sobre a Marta, mas não há como indicar com precisão quem é, mas é possível, a partir de fragmentos expressos no texto ter confiabilidade que é uma mulher que está sendo acionada pelo banco (linhas 1 e 2), possui um possível parceiro que pede seu perdão (linha 9) e aparentemente mentiu para a Rita (linha 18).
P2. Quem quer falar com Marta? O texto inicia com o anúncio de que o banco (linhas 1 e 2) quer falar com Marta, sendo, inclusive, urgente.
P3. O que significa ‘breu’ neste contexto? Anterior à questão, é preciso que o leitor tenha em mente a definição de breu. A partir da definição, e pelo fato expresso na linha 5, o leitor chega à conclusão de que breu, no contexto, significa “sem conhecimento de fisionomia”, ou uma “escuridão” quando pensa no nome Marta.
P4. O que é parecido entre o eu-lírico e a Marta? Esta informação aparece de forma explícita no texto, tendo o leitor acesso a ela na linha 16, ficando, portanto, responsável de apenas determinar a informação do texto que responde à questão.
P5. Quem é Carlos? O texto não dá detalhes sobre quem é Carlos, porém o leitor deverá usar dos demais elementos informados (linhas 9, 10, 11 e 12) e considerar os seus conhecimentos prévios para criar uma possível resposta. A partir das marcadas textuais, pode-se inferir que há uma relação de companheirismo entre Marta e Carlos.
P6. Para quem Carlos imagina estar mandando mensagens? O leitor deve partir do contexto do texto e das informações que ele apresenta, integrar e inferir que Carlos cogita estar encaminhando mensagem à Marta, uma vez que o eu-lírico intercede por ele.
P7. Quem é Rita? O leitor não consegue extrair muitas informações a respeito de Rita, apenas que ela passa a saber que Marta possivelmente fez algo que Rita não gostou (linhas 17 e 18), mediante a descoberta, Rita planeja um diálogo pessoalmente com Marta (linha 18).
P8. Onde é o “aí” mencionado pelo eu-lírico onde a Rita irá? Cabe ao leitor notar que o advérbio “aí”, utilizado pelo eu-lírico para indicar lugar, é um local conhecido apenas pelas pessoas que não estão no contexto: Marta e Rita.
P9. Quem “fiquei com saudades”? Ao comparar a desinência de número e pessoa presente no verbo ficar, o leitor notará que o eu-lírico acaba por demonstrar sentimentos pela Marta.
Questões de compreensão
Professor, a seguir são apresentadas questões de compreensão que devem ser respondidas pelos alunos de forma individual ou em dupla, como for melhor a partir do seu julgamento. Porém, é indispensável que você solicite ao aluno que ele explique a maneira como ele chegou à resposta/solução da pergunta. Esse processo de pensar as estratégias que ele utilizou, baseando-se no texto, é o processo metacognitivo da leitura que almejamos nesta proposta e nas anteriores.
Perguntas de interpretação:
P14. Você acha que o eu-lírico sente-se incomodado com o fato de receber ligações e mensagens direcionadas à Marta?
P15. Você se incomoda com ligações/mensagens no seu telefone direcionadas a outras pessoas que não a você?
3. Depois da leitura
Professor, o trabalho com a leitura não encerra-se após as questões aqui propostas. Sugere-se que se faça uma pesquisa – pode ser com outras turmas ou até mesmo com os familiares, a fim de saber se eles já receberam ligações e mensagens direcionadas a outras pessoas. A pesquisa é uma ferramenta rica no que diz respeito ao trabalho na sala de aula, isso porque permite a leitura, seleção de texto, síntese de informações e o próprio trabalho com a oralidade ao apresentar os dados coletados.
Além disso, os estudantes podem fazer uma pesquisa e seleção de “histórias de engano” (mal entendidos, golpes de internet, sequestro, clonagem) e relatar a história, primeiramente, de forma oral (podcast) e, depois, escrita. Também se pode pesquisar sugestões confiáveis (polícia, bancos, etc) para não cair em armadilhas disseminadas na internet ou entre a população.
Sugere-se, ainda, a escrita e interpretação, por parte dos alunos, de pequenas esquetes teatrais baseadas na temática do engano, seja uma ligação, um e-mail, uma mensagem que acabe tendo um resultado inesperado.
Referências:
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação e Cultura. 2017.
FALCÃO, Clarice. Marta. In: FALCÃO, Clarice. Problema Meu. Rio de Janeiro: Chevalier de Pas, 2016. 1 CD. Faixa 5.
LUSSANI, Brendom da Cunha; FORNECK, Kári Lúcia. A RELEVÂNCIA DA COMPREENSÃO LEITORA E A COMPREENSÃO LEITORA PELA RELEVÂNCIA. Revista Signos, [S.l.], v. 40, n. 2, dez. 2019. ISSN 1983-0378. Disponível em: <http://univates.br/revistas/index.php/signos/article/view/2430>. Acesso em: 03 abr. 2022. DOI: http://dx.doi.org/10.22410/issn.1983-0378.v40i2a2019.2430.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Quando a referência é uma inferência. Estudos Linguísticos, Mariana, SP, v. 30, p. 1-31, 2001. Disponível em: http://gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/30/REL_v30_2001.zip. Acesso em: 02 abr. 2022.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Sabe-se que a comunidade escolar pode ser composta por estudantes com e sem deficiências, assim, para que exista uma educação de qualidade, é necessário que haja acessibilidade, pois não se pode negar esse direito aos alunos portadores de alguma especificidade. Nesse sentido, esta proposta traz em seu bojo a reflexão acerca da acessibilidade, mais especificamente para surdos. Entende-se que a Libras não substitui a Língua Portuguesa na modalidade escrita, assim, estes alunos, bem como os ouvintes, precisam conhecer diferentes gêneros textuais, orais, escritos ou sinalizados. Nesse viés, fazemos o convite para que compreendamos um pouco mais sobre a Educação de Surdos.
O cérebro possui plasticidade e isto faz com que as pessoas consigam aumentar o seu conhecimento sobretudo no que se refere à linguagem. Assim, do ponto de vista cognitivo, principalmente no que tange à leitura, Morais afirma:
Sendo uma atividade derivada da linguagem oral, a leitura depende como aquela função de capacidade biologicamente determinada. Mas a linguagem escrita não é uma função natural. Esta aquisição cultural é susceptível de influenciar, em retorno, às próprias habilidades que permitem a realização da linguagem oral. (MORAIS, 1997, p. 45).
Neste viés, observamos que o surdo poderá enfrentar alguns problemas, como por exemplo quando estiver trabalhando com as bases cerebrais da leitura, que ainda de acordo com Moraes, possuem dois pontos fundamentais, vejamos a citação a seguir:
O desenvolvimento do cérebro até a idade adulta não é homogêneo e pode, portanto, condicionar a aquisição de habilidades. Entre 3 e 6 anos de idade, há um crescimento frontal importante; entre 6 a 13 anos, o padrão de crescimento rápido desloca-se das regiões anteriores para as posteriores, isto é, para entre outras regiões implicadas nas funções da linguagem. Assim, pensa-se que o crescimento frontal que antecede o início da aprendizagem da leitura cria as condições neuronais necessárias ao trabalho metafonológico, o que irá permitir à criança realizar a descoberta do princípio alfabético e adquirir, em parte por reflexão, as regras de base do código ortográfico da sua língua. (MORAES, 1997, p.54).
Assim, ainda do ponto de vista cognitivo, podemos entender que quanto mais cedo a criança tiver um contato, com uma ou duas línguas melhor será o aprendizado dela. No caso do aluno surdo, o bilinguismo é fundamental para o desenvolvimento, pois ser bilíngue, cognitivamente, é ter a capacidade de memorizar mais de uma língua ao mesmo tempo e desenvolver habilidades de alternância entre as duas línguas no momento certo. Isso implica em um exercício da mente para memorização, além de praticar os processos cognitivos superiores, como atividades de memorização de palavras sinalizadas e escritas e, sobretudo, desenvolver o raciocínio lógico, que vai tornar a mente do aluno mais flexível e ágil.
Precisamos compreender que a Língua de Sinais tem sua estrutura própria e ela se distingue da língua Portuguesa por ser de modalidade viso-espacial, enquanto a Língua Portuguesa é oral-auditiva. Ela também apresenta variações linguísticas como toda língua: os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e do ponto de articulação que pode ser no corpo ou no espaço onde esses sinais são feitos.
Ainda retomando a questão da leitura no que tange ao aluno surdo, podem ocorrer ou não, algumas implicações, pois o surdo está acostumado a sinalizar, sua leitura é visual e quando ele está trabalhando com a Língua Portuguesa, sobretudo, na forma escrita e, como todo leitor, ele precisa passar pelas duas vias da leitura, conforme nos fala Dehaene (2012, p.48 ): “A fonológica que é a codificação dos grafemas e a dedução da pronúncia possível das palavras e a significação que recupera o início da palavra e seu significado e depois utiliza estas informações para recuperar a pronúncia". Além disso, ainda precisa passar pela enciclopédia mental, pois ainda de acordo com Dehaene (2012), um indivíduo conhece cerca de 40.000 a 50.000 palavras. Assim, essa quantidade de palavras quando transformadas em sinais poderá ter certos significados que os surdos sentirão dificuldades em entender em Língua 2, um exemplo é quando são trabalhadas as metáforas, que às vezes os intérpretes não conseguem traduzir da forma metafórica e quando usam a substituição de palavras poderão dar outro sentido para aquela metáfora e, assim, passar uma informação de maneira diferente para o surdo.
Nos últimos anos, surgiram várias legislações no que se refere à inclusão de pessoas surdas no meio social e que traçam como objetivo o estabelecimento de direitos a essa comunidade. Existem dois documentos oficiais, a lei nº 10.436/2002 e o decreto 5.626/2005, que garantem o reconhecimento e o direito do uso da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. A Lei n º 10.436, de 24 de abril de 2002, estabelece que a Língua Brasileira de Sinais - Libras - é a maneira legal de comunicação e expressão do surdo. Dessa forma, as instituições de ensino público devem se adequar à realidade e proporcionar a esses alunos o uso da Libras enquanto primeira língua no processo de ensino e aprendizagem, desde a educação infantil até os níveis mais elevados do ensino, como consta no artigo 6º desta referida lei.
O Decreto Nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que regulamenta esta lei, assevera o direito do surdo à educação bilíngue, tendo a Libras como primeira língua e a língua portuguesa como segunda. Em consequência desse fator, faz-se necessário o desenvolvimento de práticas de ensino que contemplem os espaços educacionais garantindo um ensino bilíngue. Ao se pensar em educação de surdos deve-se fazer alusão à Educação Bilíngue, uma vez que esta reconhece o envolvimento de duas línguas, tanto do ponto de vista cognitivo quanto social da vida do aluno surdo, bem como o direito assegurado que ele tem de aprender uma língua natural sinalizada enquanto L1 e aprender a língua majoritária na modalidade escrita, a língua portuguesa.
É necessário assegurar o direito que o sujeito surdo tem de conviver num ambiente linguístico em que faça o uso da sua primeira língua, e que também aprenda a modalidade escrita do português, como já mencionado. Assim, surge a necessidade da imersão desse sujeito surdo num ambiente em que as duas línguas se complementam. Essa experiência também é rica para os alunos ouvintes, que têm a oportunidade de interagir com colegas cuja L1 é sinalizada e de aprender uma modalidade de comunicação distinta da sua L1.
Competências Gerais da Educação Básica:
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. (BNCC, 2017, p. 9).
Competências específicas de linguagens para o Ensino Fundamental
3. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao diálogo, à resolução de conflitos e à cooperação. (BNCC, 2017, p. 65).
LEI Nº 9394/96 - LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL - CAPÍTULO V - DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.
§1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial.
§2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular.
§3º A oferta da educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:
I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades;
II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;
III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;
IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
Art. 60 . Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder público.
Parágrafo único. O poder Público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo. (LEI n. 9.394 de 20 de novembro de 1996)
Caro professor(a), para o desenvolvimento desta proposta sugerimos que você faça uma pesquisa na internet sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, sobretudo acerca da comunidade Surda, assista alguns vídeos como: O Surdo tem voz? Coisas que os Surdos não gostam. Mitos sobre a Língua de Sinais e outros que abordem a comunidade Surda. É importante também conhecer um pouco sobre a história da educação de Surdos, vale ressaltar um filme muito importante para os Surdos a História de Hellen Keller, primeira mulher surdocega a conquistar um bacharelado, pode ser o filme O milagre de Anne Sullivan, que conta a história da luta desta professora a ensinar Hellen Keller, um dos maiores clássicos da Comunidade Surda.
Ressaltamos também a leitura do livro: Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da Língua de Sinais e da realidade Surda, da autora Audrei Gesser (UFSC). Após essa preparação e se possível entre em contato com a comunidade Surda da sua cidade, ou um amigo Surdo e solicite que ele vá até a escola para dar sinal de batismo a você e aos seus alunos, depois podem iniciar uma conversa.
Neste viés, assista alguns vídeos iniciais produzidos pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), órgão do Ministério da Educação acerca dos parâmetros da Libras, de alguns temas como por exemplo: Alfabeto, números, saudações, família, cores, meses do ano, entre outros que julgar necessário pra aprender e ensinar aos seus alunos. Temos certeza que você vai se apaixonar pela Libras.
1. Usando as plataformas midiáticas
Você costuma usar plataformas midiáticas para realizar atividades com seus alunos? Sabia que elas podem ser trabalhadas independente dos gêneros textuais? Pensando nisso, vamos prepará-lo(a) para produzir uma atividade dinâmica e intuitiva através da ferramenta Padlet. Mas antes de falarmos da atividade em questão, é preciso saber: você já conhece o Padlet?
O Padlet é uma plataforma de produtividade que permite a criação de quadros virtuais para facilitar a organização da rotina nos mais variados tipos de projetos e está disponível na web e em apps para Android, iOS e Kindle. As atividades, realizadas através do Padlet, podem ser customizadas conforme as necessidades e são compatíveis com conteúdos de diferentes formatos: texto, fotos, vídeos, links, desenhos e telas compartilhadas.
Além disso, o Padlet permite o compartilhamento dos murais com outras pessoas, facilitando a distribuição de tarefas em equipes de trabalho e turmas de estudo, por exemplo. Ah, e os convidados não precisam ter uma conta na plataforma. Agora vamos ver o passo a passo de como criar uma atividade no Padlet.
1.2 Atividades com o Padlet
Primeiramente, você precisa criar uma conta no Padlet:
Manual 1 - Como criar uma conta no Padlet
Desenvolvemos no Padlet uma sequência de atividades para serem trabalhadas em uma aula inicial sobre a Comunidade Surda. A ideia é familiarizar o aluno com o tema e deixá-lo preparado para auxiliar um(a) colega surdo(a) em possíveis momentos de dificuldade. A primeira atividade diz respeito a uma reflexão a partir do vídeo: os surdos têm voz? Na sequência, é apresentado o alfabeto em Libras.
Depois é disponibilizado um poema para ser lido e a seguir é solicitado que algumas questões sejam respondidas. O quarto momento traz um “Você sabia?” onde é compartilhado uma reportagem em vídeo sobre a Surdolimpíada. Após, há um vídeo bônus sobre curiosidades para ser assistido: “Coisas que os surdos não gostam”. Por fim estão as informações sobre o tema de casa: assistir ao filme "Helen Keller e o Milagre de Anne Sullivan" e, depois, solicita-se uma pesquisa sobre a Comunidade Surda para compartilhar na próxima aula. Na última coluna reservamos um espaço para a opinião do aluno e feedback.
Lá ele é incentivado a deixar sugestões e a curtir a proposta, caso seja da sua vontade. Esse momento é importante para que o(a) professor(a) tenha um retorno sobre as atividades da aula e o que pode ainda ser melhorado. Veja a seguir como ficou a sequência de atividades realizadas no Padlet e sugeridas aqui. Você pode clicar no link para ter acesso às atividades:
Fonte: print da atividade da proposta 5 no Padlet
Para essa atividade é importante que você, professor(a) assista aos vídeos, faça uma reflexão sobre eles por escrito para melhor compreender e elaborar as suas ideias, leia o poema mais de uma vez, leia sobre o autor (temos informações a respeito dele no decorrer desta proposta, no item 4.1) para poder compartilhar com aturma algumas informações importantes; assista ao filme e elabore uma reflexão para compartilhar com os alunos e as alunas, assista ao vídeo bônus e anote algumas curiosidades para destacar junto da turma.
A atividade que apresentamos estará conectada com a exigência de inserção das novas mídias na sala de aula, bem como promoverá a interdisciplinaridade, algo há muito valorizado na área educacional, visto que conhecimento não se dá em caixinhas separadas, mas ele é interligado e interrelacionado às várias áreas do saber. Isso torna o trabalho em sala de aula mais prazeroso e produtivo para o aluno, além de atender às propostas contemporâneas para o ensino tanto remoto quanto híbrido.
Olá professor(a), este será o momento de pensar como você irá trabalhar com seus alunos, para tanto criamos uma sequência de passos que poderão lhe ajudar a desenvolver esta proposta e como objetos de aprendizagens para potencializar a transmissão do conhecimento aos seus alunos, sugerimos: vídeos,filmes, infográficos, flash cards, Padlet, fóruns, E-books, histórias interativas, jogos virtuais, leitura, dramatização, entre outros. Aqui, utilizaremos o Padlet para trabalhar a ideia de sala invertida.
1. Antes da leitura
Passo 1 - Sugerimos iniciar esta etapa com a metodologia ativa chamada sala de aula invertida, você deve utilizar o padlet sugerido nesta proposta, assim você enviará o link para que os alunos possam previamente ter contato com o conteúdo que será abordado na aula seguinte. Após a utilização do padlet ao retornarem para a sala de aulas você irá perguntar aos alunos o que eles acharam da ferramenta, em seguida, começar a discutir com a turma acerca dos assuntos abordados no padlet, que versa sobre a comunidade Surda.
Passo 2 - Na próxima aula, você poderá iniciar a proposta com os seguintes questionamentos: Imagine se seu pai, sua mãe, irmão, ou você fosse surdo, qual a língua que gostaria que fosse falada na escola? A língua materna Libras, ou a segunda língua, a portuguesa? É preciso se colocar no lugar do surdo para compreender o que é viver no mundo do silêncio, mas que pode ser falado pelas mãos e ouvido pelos olhos. Será que isso é possível? Poderá ainda formar grupos, pedir que discutam sobre o assunto e, em seguida, façam a socialização com a turma.
Passo 3 - A aula seguinte deverá ser iniciada com uma explanação feita por você, professor(a) sobre a inclusão educacional de alunos surdos, que, normalmente, encontram dificuldades de se comunicar com alguns alunos ouvintes. Perguntar a opinião dos alunos acerca do assunto. Após esta discussão você pode começar a falar sobre a Libras e a dificuldade que alguns alunos Surdos sentem quando precisam escrever em português, neste momento mostrar a diferença que há entre a Língua portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais. Ressaltando que os ouvintes também enfrentam dificuldades, na maioria das situações, por não terem conhecimento da Língua Brasileira de Sinais. Libras é a língua utilizada pela comunidade surda brasileira, é considerada a primeira para essas pessoas, sendo a língua portuguesa a segunda utilizada pelos surdos. Dessa forma, a maioria dos surdos são bilíngues e assim mostrar a importância da Libras também para o aluno ouvinte como L2.
Passo 4 - Agora estabeleça a diferença entre a Libras e a Língua Portuguesa, pois a Língua de sinais é viso-espacial, assim o surdo percebe a sinalização e entende o que as mãos estão transmitindo, mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que a língua de sinais foi proibida. Isso aconteceu no Congresso de Milão em 1880, uma conferência internacional que declarou que a educação oralista era mais apropriada aos surdos que a língua de sinais. Assim, todos os surdos foram obrigados a utilizar a língua oral nas escolas.
Passo 5 - Para iniciar a atividade seguinte, solicite previamente aos alunos que assistam ao filme E seu nome é Jonas. Após assistirem ao filme solicite que eles se posicionem acerca do filme assistido, pergunte o que eles acharam do filme? Qual a parte que eles mais gostaram? Qual a que eles menos gostaram? Solicite que eles se imaginem no lugar do Jonas, solicite que eles passem alguns momentos em silêncio para ouvir a voz do silêncio, e você poderá criar uma infinidade de perguntas de acordo com a sua criatividade.
Passo 6 - Em seguida você poderá fazer uma leitura silenciosa, ler e comentar com seus alunos, ou ainda resumir o texto abaixo, “Um pouco de História da Educação de Surdos”, em infográficos ou slides com figuras que comprovam cada passagem do texto o que irá chamar a atenção dos alunos, pois existem muitas imagens no Google sobre a História da educação de Surdos. Use a sua criatividade.
Passo 7 - Quando chegar na parte das metodologias trabalhadas com os Surdos: oralismo, comunicação total e bilinguismo, solicitar aos alunos que identifiquem com passagens do filme assistido, E seu nome é Jonas, as metodologias utilizadas.
Um pouco de História da Educação de Surdos
Durante a Idade Antiga, os surdos não eram valorizados e tinham seus direitos negados. Muitos eram mortos, simplesmente por não poderem ouvir nem falar. Em Roma, não perdoavam os surdos, porque achavam que eles eram pessoas castigadas ou enfeitiçadas e que, por esse motivo, não falavam. Normalmente, eram abandonados e mortos ou jogados no rio Tiger.
Na Grécia, os surdos eram considerados inválidos e um incômodo para a sociedade. Por isso, eram condenados à morte – lançados do rochedo de Taygéte, nas águas de Barathere. Egito e Pérsia consideravam os surdos como criaturas privilegiadas, porque acreditavam que eles se comunicavam em segredo com os deuses e eram enviados por eles. O filósofo Aristóteles (384 – 322 a.C.) acreditava que, quando alguém não falava, não possuía linguagem e tampouco pensamento. Segundo ele: “Se não fala, não pensa!”. (SILVA, 2009, p.3). Ele achava absurdo a intenção de ensinar o surdo a falar.
Ainda na Idade Média, os surdos não tinham tratamento digno, pois eram queimados em imensa fogueira. Também eram considerados seres estranhos e vistos como objetos de curiosidades para a sociedade. Eram proibidos de receber a comunhão, por serem considerados incapazes de confessar seus pecados, em razão de não poderem falar. Além disso, lhes era negado o casamento, bem como herança, voto ou qualquer direito de cidadania. Somente na Idade Moderna, no séc. XVI, surgem os primeiros educadores de surdos. Girolamo Cardano, italiano (1501-1576), era filósofo e médico. Teve grande participação na educação de surdos. Segundo ele, a surdez e a mudez não eram impedimentos para desenvolver a aprendizagem, e o meio melhor dos surdos de aprender é através da escrita, era um crime não instruir um surdo. Ele utilizava a língua de sinais e a escrita com os surdos.
Pedro Ponce de Leon Espanhol (1510-1584) estabeleceu a primeira escola para surdos em um monastério de Valladolid, onde ensinava surdos de famílias aristocratas. Dentre vários educadores de surdos, o Abade Charles-Michel de L’Epee foi grande defensor da Língua de Sinais. Criou a primeira escola pública de surdos em Paris, o Instituto Nacional para Surdos-Mudos em 1760. Foi por meio desse Instituto que o professor Huet, a convite de D. Pedro II trouxe o método combinado para o Brasil. Só lembrando que a Língua Brasileira de Sinais teve influência francesa e não portuguesa.
Alfabeto datilológico
Agora que você já trabalhou com os alunos um pouco sobre a história da educação de surdos, que tal conhecer o alfabeto datilológico utilizado pela comunidade surda? No youtube você encontra um vídeo para ver a exemplificação dos sinais que correspondem às letras do alfabeto. Treine em casa e depois teste com seus alunos se eles conseguem repetir.
Fonte: imagem retirada da internet
Após, converse com a turma sobre o alfabeto em Libras. Peça para eles lerem as respostas das questões que foram trabalhadas no Padlet:
Neste momento, você professor(a), deve explicar aos alunos que a Língua de Sinais não é universal, pois como toda língua cada país tem a sua própria língua de sinais. A Libras significa Língua Brasileira de Sinais, ela não é uma linguagem, mas sim uma língua, pois possui estrutura própria e também variações linguísticas de sinais. Deve também explicar aos alunos que a Libras possui cinco parâmetros linguísticos, os quais são considerados unidades mínimas da Língua de Sinais, três parâmetros primários foram descobertos por Willian Stokoe são eles: configuração de mão, ponto de articulação e movimento, depois foram descobertos mais dois orientação da palma da mão e expressão facial/ corporal. Agora precisa descrever para os alunos cada parâmetro para que eles possam compreender a estrutura da Libras.
Configuração de mão: é a forma que a mão apresenta na hora de produzir um sinal, serve para compor o sinal. A configuração de mão não é o alfabeto datilológico, pois este é que faz parte das configurações de mãos. Em seguida, deve pedir aos alunos fazer algumas configurações e identificar a numeração. Você pode também imprimir as configurações, separá-las e pedir a eles que descubram a numeração.
Fonte: Imagem retirada do site slideplayer.com.br
Ponto de articulação: a parte do corpo ou próximo dele onde são articulados os sinais, pode ser na cabeça, na boca, no queixo, ou no espaço neutro em frente ao corpo.
Fonte: Imagem retirada do site slideplayer.com.br
Movimento: nem todos os sinais têm movimentos, alguns são parados, assim o parâmetro movimento se refere ao modo como as mãos se movimentam na hora de executar o sinal, que poderá ser em forma de círculo, de seta, ambas as mãos, mãos alternadas e para onde estão sendo feitos os movimentos, se para frente, para direita, para esquerda, etc.
Fonte: Imagem retirada do site slideplayer.com.br
Orientação da mão: É a direção da palma da mão no momento da realização do sinal. Existem sinais que possuem a mesma configuração de mão, o mesmo ponto de articulação, o mesmo movimento, porém com orientação da palma da mão diferente, entretanto essa orientação pode mudar totalmente o significado do sinal. De acordo com Felipe e Monteiro (2007, pg. 23) os verbos IR e VIR se opõem em relação à direcionalidade, como os verbos SUBIR e DESCER, ACENDER e APAGAR, ABRIR-PORTA e FECHAR-PORTA.
Fonte: Imagem retirada do site slideplayer.com.br
Expressão facial e corporal: também chamados de componentes não manuais, que podem ser o movimento do corpo, movimentos de cabeça, sobrancelhas, olhares etc.
Fonte: Dicionário de Libras Online do INES, disponível em http://www.acessobrasil.org.br/libras
Obs.: Neste momento, professor(a), você deve ensinar aos alunos que estas expressões fazem parte da gramática da Língua de Sinais e que devemos respeitar os Surdos evitando chamar por expressões como, por exemplo, caretas, ou outras palavras pejorativas que possam causar constrangimento aos Surdos.
2. Durante a leitura
Professor(a), este é o momento em que você vai fazer a leitura com seus alunos. Esta leitura poderá ser silenciosa, em voz alta, em duplas, você irá escolher diferentes formas de leitura como achar melhor.
Texto 1 – É preciso ser surdo para entender, de Willard J. Madsen
Aprofundando a compreensão leitora
Para melhorar a compreensão do texto, sugerimos que você, professor(a), converse com seus alunos sobre as seguintes questões:
Apresente para a turma algumas metáforas identificadas no texto:
- um desejo interno que está em chamas
- o fio da meada
- estrada da vida
Como é “ouvir” uma mão? Você precisa ser surdo para entender!
Como é ser curioso na ânsia por conhecimento próprio com um desejo interno que está em chamas e você pede a um irmão, irmã e amigo ajuda, que respondendo lhe diz: “Não importa”! Você precisa ser surdo para entender!
Como é ter alguém a gritar pensando que irá ajudá-lo a ouvir ou não entender as palavras de um amigo que está tentando tornar a piada mais clara e você não pega o fio da meada porque ele falhou? Você precisa ser surdo para entender!
Como é estar na estrada da vida e encontrar com um estranho que abre a sua a boca e fala alto uma frase a passos rápidos e você não pode entendê-lo e olhar no seu rosto porque é difícil e você não o acompanha? Você precisa ser surdo para entender!
Pontos que precisam de reflexão:
Como é ser surdo e sozinho em companhia dos que podem ouvir e você somente tenta adivinhar, pois não há ninguém lá com uma mão ajudadora enquanto você tentar acompanhar as palavras e a música? Você precisa ser surdo para entender!
Como é estar de castigo num canto embora não tenha feito realmente nada errado a não ser tentar fazer uso das mãos para comunicar a um colega silencioso um pensamento que vem, de repente, a sua mente? Você precisa ser surdo para entender!
Questões gramaticais: Língua Portuguesa X Libras:
Aqui você irá destacar as principais diferenças e semelhanças da Língua Portuguesa e da Libras. Antes de explicá-las, peça aos alunos para eles apontarem as diferenças que percebem entre as duas línguas.
- Língua Portuguesa é uma língua oral-auditiva, que utiliza como canal, ou comunicação, sons articulados que são percebidos pelos ouvidos.
- Libras é uma língua visual-espacial que utiliza como canal, ou meio de comunicação,sinais , expressões faciais que são percebidos pela visão.
Depois dessa conversa inicial, solicite que cada aluno construa uma estrofe com o tema “amigo surdo”!
Aqui ele poderá falar de vários aspectos. Por exemplo: sobre um amigo surdo, caso o tenha, poderá descrever como ele imagina uma situação com esse amigo, sobre empatia, comunicação, entre outros assuntos que variam em torno desse tema. Por fim, você poderá juntar as estrofes de cada um e organizá-las, fazendo as adaptações necessárias, junto com a turma, para construir um poema.
3. Após a leitura
Sentindo o texto:
Converse com o adolescente sobre suas impressões a respeito do texto escolhido e faça as seguintes perguntas a ele:
Na sequência, conte a história de quem escreveu o poema. Abaixo estão as informações para tal, no entanto, não cabe aqui ler o texto que segue, mas sim contar de forma breve e interessante os pontos mais relevantes sobre a vida do escritor surdo Willard J. Madsen.
Quem foi Willard J. Madsen, autor do poema “É preciso ser SURDO para entender…”?
Willard J. Madsen foi professor Emérito da Universidade Gallaudet, Washington, DC, um educador Surdo aposentado de 44 anos de ensino ativo. Nascido em 24 de janeiro de 1930 nas planícies da zona rural de Florence, Kansas, foi educado na zona rural da cidade de Marion, na Peabody Junior High School e na Kansas School for the Deaf (Escola para Surdos) em Olathe, ele se formou em Artes com distinção em Educação pela Universidade Gallaudet em 1952 e fez mestrado em Educação pela Louisiana State University, Baton Rouge, em 1956.
Além de sua profissão de ensino escolhida, os interesses pessoais de Will incluíam: leitura, escrita, edição, poesia, jardinagem, culinária, teatro e viagens. Autor de dois dos primeiros livros didáticos de Língua de Sinais Americana (níveis intermediário-avançado), ele era internacionalmente conhecido por seus poemas aclamados, Catholic Deaf Center, Arquidiocese de Washington, (1998); Reconhecimento de Professor Emérito (2000); e Kansas School for the Deaf Alumni Association 2005 Man of the Year Award. Depois de se aposentar do ensino em tempo integral na Universidade Gallaudet em 1996, Will continuou trabalhando como consultor/avaliador de linguagem de sinais americana. Faleceu em 2016.
Instituto Nacional de Educação de Surdos:
https://www.ines.gov.br/conheca-o-ines
Mitos sobre a língua de sinais:
https://www.youtube.com/watch?v=JTDF01oYSB8
Lista de filmes sobre o tema da surdez:
O milagre de Anne Sullivan (Arthur Penn, 1962): O filme retrata a luta da professora Anne Sullivan para educar uma jovem garota surdocega, até então tida como não-educável pelos seus tutores.
The Hammer (Oren Kaplan, 2011): filme biográfico que conta a história de Matt Hammill, lutador surdo que teve uma emblemática carreira nas lutas universitárias.
E seu nome é Jonas (Richard Michaels, 1979): Jonas é um garoto surdo, que viveu parte de sua infância internado em um hospital para deficientes intelectuais, devido à dificuldade em se comunicar.
Black (Sanjay Leela Bhansali, 2005): Michelle McNally é uma garota surdocega nascida em uma rica família anglo-indiana. Ainda pequena, prestes a ser internada em um asilo, passa a ser educada por um brilhante professor, com quem divide sonhos e vivencia os momentos mais importantes de sua vida.
Filhos do Silêncio (Randa Haines, 1986): o filme conta a história de James Leeds, um idealista professor de língua de sinais que gosta de usar métodos pouco convencionais
A Linguagem do Coração (Jean-Pierre Améris, 2016): Em 1897, Marie Heurtin nasceu cega e surda, filha de um humilde artesão e sua mulher. Aos 14 anos, Marie vive em seu próprio mundo, incapaz de se comunicar com as pessoas ao seu redor. Seu pai, desesperado para estabelecer uma conexão com a filha, não quer enviá-la para um manicômio.
O País dos Surdos (Nicolas Philibert, 1992): O diretor Nicolas Philibert retrata as curiosidades, sensibilidades, dificuldades e alegrias de ser surdo, oferecendo através de pessoas de várias idades a superação diária e os desafios de se comunicar através de um sistema específico que envolve o olhar e o tato.
O martírio do silêncio (Alexander Mackendrick, 1952): O drama britânico conta sobre Mandy Garland, uma garota que nasceu surda, mas que sua mãe acredita que ela é capaz de falar se ensinada corretamente e a matricula – contra a vontade de seu marido – em uma escola para surdos, que conta com um professor excepcional.
Nada que eu ouça (Joseph Sargent, 2008): A disputa judicial pela guarda de um filho surdo torna-se pano de fundo para uma sensível discussão sobre implantes cocleares, identidades surdas, orgulho surdo etc. As diferentes expectativas postas em conflito (de um lado, um pai ouvinte; de outro, uma mãe surda) vão deslindando diferentes concepções sobre a surdez, fazendo emergir as nuances políticas (e não só médicas) que envolvem a decisão de se implantar, ou não, uma criança surda.
A voz do silêncio (Naoko Yamada, 2016): Koe no Katachi é um anime, baseado no mangá (história em quadrinhos) homônimo, que tem como personagens principais Shōko Nishimiya, uma garota surda, e Shoya Ishida, seu ex-colega de escola. Durante muito tempo, Shoya fez de Shōko o principal alvo de suas chacotas, ao ponto de fazê-la mudar de escola. No entanto, o garoto também passa a sofrer “bullying” dos rapazes do colégio, ficando isolado e chegando a cogitar um suicídio. Mas uma guinada se dá quando Ishida, anos depois, reaproxima-se de Shōko, arrependido, travando com ela uma amistosa relação – e, para estar próximo, dedica-se a aprender a língua de sinais, estreitando os laços que os unem.
Referências:
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