Na quinta reportagem sobre o tema, os entrevistados são a vice-reitora, Andréia Valim, e o diretor de Inovação e Empreendedorismo, Rafael Kirst
Neste ano, a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) comemora 30 anos de Iniciação Científica. Nestas três décadas, diversas são as histórias e lutas para que a Universidade conquistasse o patamar de excelência.
Na quinta reportagem sobre o tema, os entrevistados são a vice-reitora da Unisc, Andréia Rosane de Moura Valim, que já foi diretora de Inovação e Empreendedorismo (2020-2021), pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação de (2014 a 2019) e coordenadora de Pesquisa de (2010 a 2013); e o diretor de Inovação e Empreendedorismo, Rafael Kirst.
Andréia inicia contextualizando que o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) foi criado em 1988 pelo CNPq. Nele, as bolsas de IC passaram a ser concedidas diretamente às instituições de ensino superior e aos institutos de pesquisa, que assumiram também a gestão da concessão de bolsas, criando mecanismos administrativos próprios. Além do CNPq, existem outros financiadores deste tipo de programa, como por exemplo a FAPERGS e a própria Unisc, que mantém um programa próprio de bolsas. Na Unisc, o programa de IC foi implementado em 1994.
A trajetória da professora Andréia na pesquisa iniciou-se ainda na graduação, quando, a partir do segundo semestre, tornou-se bolsista de iniciação científica. Essa experiência marcante configurou um marco fundamental em sua formação acadêmica, impulsionando sua paixão pela pesquisa. Com uma sólida experiência em orientação de alunos de iniciação científica, Andréia assumiu a Coordenação de Pesquisa da Unisc em 2010. Sua vivência como bolsista e orientadora permitiu compreender profundamente a importância da iniciação científica para a formação de pesquisadores e para o desenvolvimento da produção científica da instituição. Ao longo de sua gestão, Andréia aprofundou seu conhecimento sobre os diversos projetos de pesquisa da Unisc, constatando a rica diversidade de temas e pesquisadores, o que enriquece significativamente a produção científica da instituição.
A implantação das Bolsas de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico na Unisc (2010), uma iniciativa relativamente nova no cenário acadêmico, foi um processo desafiador. A necessidade de articular a academia com o setor produtivo, além de outras premissas, tornou a socialização desse novo recurso voltado à capacitação discente uma tarefa complexa. Essa nova modalidade de bolsa surgiu em um momento crucial para a Unisc, marcado pela expansão de suas atividades de pesquisa aplicada e pelo fortalecimento do ecossistema de inovação. A inauguração do Parque Tecnológico em 2014 e a consolidação da Incubadora foram fundamentais para esse processo, e as Bolsas de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico se integraram a essa nova fase.
Com o objetivo de promover a pesquisa em todas as áreas do conhecimento, a Unisc distribui suas cotas de bolsas em quatro grandes áreas. A concessão das bolsas é feita de acordo com a demanda dos pesquisadores, que podem atuar tanto na pesquisa básica quanto na aplicada. Essa diversidade de pesquisas, fomentada pela iniciação científica e tecnológica, contribui para o desenvolvimento da autonomia científica e tecnológica dos alunos e para o fortalecimento da pesquisa na instituição. “Sempre tivemos pesquisadores muito produtivos, que realizam pesquisa básica e também pesquisadores voltados para a pesquisa aplicada. A Iniciação Científica e Tecnológica é vital para que a ciência nunca pare. É o marco inicial para despertar o interesse pela pesquisa, pelo desenvolvimento do pensamento crítico e pelo futuro do país, produzindo soberania científica e tecnológica.”
Bolsas Ensino Médio
A expansão das bolsas de iniciação científica para alunos do ensino médio em escolas públicas foi um grande desafio, exigindo um esforço adicional dos pesquisadores. A iniciação científica no ensino médio (IC-EM) é uma modalidade de iniciação científica que normalmente se desenvolve quando alunos do Ensino Médio têm a oportunidade de vivenciar a rotina de uma pesquisa, desenvolvida em diferentes setores de uma universidade. “A implantação do programa na Unisc em 2012 trouxe resultados muito positivos, revelando talentos promissores que, após ingressarem na graduação, continuaram suas trajetórias acadêmicas, muitos deles em programas de pós-graduação."
Ao encerrar sua fala, a vice-reitora destacou a natureza cíclica e infinita da pesquisa: “Por que pesquisamos? Porque a pesquisa é infinita. Um problema gera outro, e assim sucessivamente.” Ela enfatizou a importância do método científico como ferramenta para guiar essa jornada de descobertas, permitindo que os pesquisadores questionem constantemente a realidade e busquem novas respostas. A iniciação científica, segundo a Vice-reitora, é fundamental para despertar e cultivar essa curiosidade, preparando os estudantes para uma vida de aprendizado contínuo.
Fotos: Bruna Lovato/Unisc
Andréia Rosane de Moura Valim
Inovação e empreendedorismo
Rafael Kirst é diretor de Inovação e Empreendedorismo e por mais que a Direção seja nova, as áreas sempre estiveram presentes na Universidade. Segundo ele, é como se já estivesse no DNA da Unisc. “Quando nossos pioneiros pensaram na Unisc, claro que havia aqui um componente de qualificação de pessoas, como também uma forma de atender a uma demanda da indústria e das empresas locais. Mas também o que logo se entendeu é que essa relação não passa apenas por ensino, mas também no sentido de desenvolvimento de pesquisa, de projetos e de um suporte direto da Unisc à comunidade empresarial local.”
E isso, segundo ele, foi evoluindo ao longo do tempo para uma série de iniciativas e projetos. “Nós tivemos no passado, e ele é uma estrutura que continua ativa até hoje, o nosso Polo de Modernização Tecnológica do Vale do Rio Pardo, que desenvolveu a seu tempo um trabalho muito importante. E, posteriormente, desenvolvemos a nossa Incubadora já hoje com 19 anos. A Itunisc nasceu, inicialmente, de um conjunto de cinco empresas que ocupavam uma sala no bloco 53. Ao longo dessa trajetória, a Incubadora já apoiou um número bastante elevado de empreendimentos. Ao todo, nós temos 28 empresas que se graduaram, que passaram pela trilha de incubação e que hoje estão no mercado.”
Kirst salienta que muitas dessas empresas alcançaram uma relevância na região, desenvolvimento, que é aquilo que a Unisc busca com todas essas ações. “Então, esse esforço ao longo dos anos, de docentes, de técnicos da Unisc, propiciou a consolidação desses ambientes, o crescimento dessas estruturas.”
Há também o Tecnounisc, o Parque Científico Tecnológico Regional, que conta com 27 associadas da região que colaboram no desenvolvimento de novos produtos, de melhorias de processo. “E isso se dá justamente por nós promovermos essa relação próxima do conhecimento, que é gerado na Universidade, com a demanda que é percebida pelo empresário, pelo empreendedor. Acho que essa é a grande fórmula de sucesso: pegarmos a pesquisa, o conhecimento que é desenvolvido, especialmente nos nossos Programas de Pós-Graduação, e que coloquemos, de uma forma mais presente no desenvolvimento desses projetos, dessas demandas empresariais que vêm surgindo.”
Mais recentemente, em 2021, foi criado, com o auxílio da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Estado, um Laboratório de Cidades Inteligentes, o Living Vales, projeto coordenado pelo professor Leonel Tedesco. “É mais um espaço para desenvolvermos essa relação da Universidade com a comunidade, seja ela a comunidade empresarial, o poder público, a sociedade civil organizada. É um laboratório para que possamos pensar as nossas cidades, de forma a incorporar mais tecnologia ao cotidiano das pessoas, melhorando a qualidade de vida delas. Mas lembrando que uma cidade inteligente não é só uma cidade cheia de computadores, cheia de sensores, ou cheia de pontos de internet. O Laboratório convida todos para esse trabalho de introspecção, de reflexão, de qual cidade nós queremos. Essa é uma iniciativa bacana e importante que atende não só Santa Cruz do Sul, mas toda a região dos Vales.”
Outro ambiente mais recente é o Projeto Praça STEM: Science, Technology, Engineering and Mathematics, que é um espaço pensado para discussão, especialmente com os estudantes de Educação Básica, sobre Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. “É um campo que precisa ser muito mais explorado no Brasil. São áreas de formação que há uma carência ainda de profissionais e que são fundamentais, ainda mais se falamos de indústria, para o aumento da competitividade das empresas brasileiras. E o laboratório, de uma forma lúdica, por meio de um pensar em programação, em robótica, em conceitos de engenharia, em conceitos de arquitetura, vem mostrando para as crianças de que essa é uma área interessante, é uma área legal, é uma área que cativa também a atenção deles e que eles podem estudar e se especializar.”
O espaço também é pensado para que se progrida a estrutura para um FabLab, um espaço para desenvolvimento de soluções de uma forma rápida. “Precisa necessariamente estar aberto para receber todas as demandas da comunidade. É importante, porque ele promove a interação, tanto dos nossos estudantes de graduação, quanto de pós-graduação, dos estudantes da rede básica de ensino, das empresas que fazem parte do Parque e da Incubadora, e da comunidade, dos entusiastas, das pessoas que querem interagir um pouco mais dentro da temática da inovação.”
Rafael Kirst