AcessibilidadeAcessibilidadeInternacional

Notícias

Carmen Lucia de Lima Helfer e Paula Camboim estavam bastante envolvidas no primeiro Seminário de Iniciação Científica

Neste ano, a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) comemora 30 anos de Iniciação Científica. Nestas três décadas, diversas são as histórias e lutas para que a Universidade conquistasse o patamar de excelência. 

Na segunda reportagem sobre o tema, as entrevistadas são a atual assessora de Relações Interinstitucionais, Carmen Lucia de Lima Helfer, ex-reitora da Unisc e coordenadora de Extensão em 1994/1995; e a professora do Departamento de Ciências, Humanidades e Educação, Paula Camboim, que foi coordenadora de Extensão em 1996/1997. As duas estavam bastante envolvidas no primeiro Seminário de Iniciação Científica.

“Os mestrados estavam sendo criados, havia uma estímulo institucional para que os professores  fizessem pesquisa e extensão, e o desenvolvimentos dos programas de bolsas para nossos estudantes. Lembro que eram 10 bolsas para a Universidade inteira, os projetos foram selecionados e era exigência do CNPq que, ao finalizar a bolsa, os alunos apresentassem um relatório da sua participação num evento. E foi aí que nasceu o Seminário de Iniciação Científica. Eram 10 projetos e olha só o que virou hoje, eu chego a me arrepiar”, destacam as professoras.  

Um pouco antes, em 1993, Carmem salienta que o incremento da pesquisa nasce com a Universidade e com o incentivo que os professores tinham da Instituição em fazer mestrados e doutorados. Na época, se tinha um compromisso, enquanto docente, em fazer mestrado e/ou doutorado. “Ou seja, formar professores, mestres e doutores e com amplitude da pesquisa. E então, em 1993, quando a Unisc se transforma em Universidade, se começa a trabalhar intensamente para a criação de um mestrado. Em 1994 foi implantado o Mestrado interdisciplinar em Desenvolvimento Regional.”

Havia também nessa época uma preocupação em institucionalizar pesquisa e extensão. “E a Paula, como coordenadora na época, implantou o Seminário de Iniciação Científica. Nós conseguimos, estávamos sempre de olho em bolsas externas e os recursos sempre eram pequenos. Mas houve uma ampliação gradativa de bolsas de pesquisa e de extensão com investimentos da Unisc, isso é muito importante. Começamos com o CNPq, principalmente, e todos esses órgãos de fomento exigiam que houvesse a socialização da pesquisa produzida pelos bolsistas, que eram relatórios que tinham que ser enviados. Nesse modelo foi se criando também a institucionalização com a regulamentação de bolsas de pesquisa, iniciação científica e extensão.”  

Segundo Carmem, em 1997, começou-se a trabalhar nesses regulamentos. “Com o professor Rogério Lima da Silveira, então coordenador da Pesquisa, foram criados os regulamentos dos projetos de pesquisa e bolsas de pesquisa, projetos de extensão, bolsas de extensão e a criação do fundo de pesquisa e extensão. Eu me lembro que foi muito rico naqueles anos de 1998 a 2000.”

A professora Paula, afastada para o mestrado, quando retornou ficou espantada com os avanços. “A Paula lembra que eram 10 projetos. Então, tu imagina a Universidade crescendo com mais cursos, foi um tempo de muito desenvolvimento acelerado. Professores se doutorando, professores terminando mestrado, voltando mais capacitados para desenvolver a pesquisa.”

Assim como a qualificação dos professores foi crescendo, a exigência, enquanto Universidade de ter ensino, pesquisa e extensão institucionalizados.  “E o que aconteceu? Um boom. O que tínhamos que fazer? Regular. E trabalhamos muito nessa questão de institucionalizar, regulamentar os projetos, regulamentar a extensão, criar o fundo de pesquisa.”

Em 2002, o professor Luiz Augusto Costa a Campis, reitor, foi sempre incentivador do ensino, da pesquisa e extensão. Criou a pró-reitoria de Extensão, separada da Pesquisa. “Porque era tanto o crescimento de ambas e ainda os de cursos especialização, que estavam se desenvolvendo. Teve início a criação de uma coordenação de stricto sensu. E a extensão vira uma pró-reitoria de Extensão e Relações Comunitárias, e eu sou a primeira pró-reitora e a Paula, a primeira coordenadora.”

Foi então que se deu outro crescimento naquilo que se chamava de olhar para projetos de desenvolvimento social. Foi criado, então, o Programa de Apoio a Projetos de Extensão para o Desenvolvimento Social (Papeds), um programa que alcançava bolsas para graduandos em projetos da área social, de fomento externo. “Criamos comitês de avaliação de projetos de pesquisa, de extensão e relatórios de bolsistas de diferentes áreas do conhecimento. Trazíamos doutores, especialistas de universidades externas. Eles passavam uma semana aqui avaliando todos os projetos”, lembra Paula.

Em 2003, o seminário passou a ser de Iniciação Científica e Extensão. “Começamos a colocar a extensão na rota dos seminários, pois eram muitos projetos e projetos qualificados. A prática da extensão acontecia intensamente. Já estava institucionalizada em termos de legislação interna, em termos de uma pró-reitoria, isso foi um marco de fortalecimento da extensão enquanto atividade fim da universidade”, acrescenta Paula.

A Unisc era Universidade de ensino e extensão, antes de ser de pesquisa. “E havia uma grande quantidade de projetos altamente qualificados de extensão e que a pesquisa, por si mesmo, ela tinha fomento externo, ela tinha outras instâncias e políticas públicas que eram muito mais regulamentadas e estimuladas. A extensão sempre foi meio um patinho feio em todo o Brasil, porque carecia de incentivos, carecia de metodologias, carecia de referenciais”, diz Carmem.

Elas destacam que a Unisc foi uma das primeiras universidades comunitárias a ter uma regulamentação e uma institucionalização de extensão. “Eu me lembro dos avaliadores externos me perguntando, enquanto eles estavam avaliando o projeto, que nunca tinham visto uma instituição com fomento para extensão, inclusive em termos de bolsas. E eu lembro que um me perguntou quando ganhamos esse salto na extensão e eu respondi: mas sempre tivemos, desde 1986”, relembra Paula.   

E a Unisc foi melhorando com o passar dos anos. Foram se implantando mais mestrados e crescendo a iniciação científica.  E com isso se abriu o seminário para fora da Unisc, impulsionando, ainda mais. “Se tu fez um trabalho que a professora pediu, foi bem avaliado, e tu tem interesse em apresentar, se abriu também essa possibilidade. Porque se valorizava a indissociabilidade entre pesquisa, extensão e ensino”, coloca Carmem.

História pulsa pela Universidade 

Na entrevista, as professoras fazem questão de elogiar o ex-reitor Luiz Augusto Costa a Campis. “A história da Universidade é uma história muito intensa e muito bonita. E, muitas vezes, as pessoas chegam, olham como se fosse só daqui para frente. Foi muito com o incentivo do professor Luiz Augusto, que tinha uma clareza muito grande da importância da pesquisa na Universidade, foi precursor, nos ensinou a entender isso. Ele desafiava, íamos atrás, expressava que era fundamental ter consolidado a pesquisa e extensão. Não estou menosprezando outros reitores, mas ele foi um líder, talvez mais do que precursor, uma liderança nessa temática.” 

Um exemplo foi o primeiro mestrado, em Desenvolvimento Regional, o primeiro mestrado interdisciplinar no Brasil. “Houve todo um estudo, uma implantação, uma busca, um convencimento. Outra coisa: ter professores titulados. A Unisc sempre teve professores titulados. Mas ela teve, lá no seu início, um enorme investimento em capacitação de professores em mestrados e doutorados. Era um tempo de muita potência, de muita efervescência, de estudos, de dinâmicas, de crescimento e qualificação da Unisc. Havia um comprometimento imenso. Quanto mais você investe na qualificação de professores, mais efeitos isso impactará nas dimensões acadêmicas.” 

Pandemia: período de incertezas, mas muita pesquisa

Durante a pandemia de Covid-19, Carmem era reitora da Unisc. Apesar de um tempo completamente inusitado no mundo, foi um período de muita produção de trabalhos e atividades, tanto na Pesquisa como na Extensão, no sentido de a Unisc se somar à comunidade para tentar minimizar os efeitos. “Então, não havia o ensino presencial. Isso aqui foi um deserto. Eu sempre digo, foi horrível ficar aqui sem ninguém. Foi horrível ficar aqui sem aluno. Porque na pandemia, você não sabia o que iria acontecer.”

Como presidente do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung) na época, Carmem lembra que todas as 14 universidades pararam com as atividades no mesmo dia. “Levamos três dias para implantar um sistema remoto para não perder os estudantes e não deixar com que se tivesse um ano completamente perdido. Trabalhamos muito e criamos muitas coisas que hoje estão sendo continuadas e transformadas, que naquela época tinham uma finalidade.”

A Unisc, como outras comunitárias, teve um papel fundamental na região e em Santa Cruz do Sul na vacinação; no envio de sabão às comunidades carentes; na produção de pães, de alimentos; de pesquisas, inclusive, para aparelhos de respiração em parceria com grupos de estudo e com as empresas do TecnoUnisc. “Foi tão bonito, porque, à medida que era para ficar em casa, usar máscaras, álcool gel, as pessoas vinham para trabalhar em prol da comunidade. Então, esse papel de promover a Universidade, ser um centro catalisador de iniciativas na arte, na ciência,  foi fundamental. Nós não deixamos de fazer nada, só de outro jeito. E isso foi um grande aprendizado. E passou. A contemporaneidade nos desafia a estarmos preparados para isso. Essa foi a nossa grande missão: ter estrutura para frustração, ter a estrutura para o sofrimento, mas para a reinvenção, para se rever, revisitar e criar. Isso, pra mim, é inovação, que começa pelo ser humano, na sua vida”, finaliza Carmem. 

LEIA MAIS
MENU PRINCIPAL